Não sei se existe vinho barato no Brasil. Essa é a grande verdade. Um vinho que custa R$ 40 é chamado de barato e por vezes visto com desconfiança no Brasil, mas na Europa um vinho de dez Euros é algo muito decente. Normalmente o preço dos vinhos europeus no Brasil é facilmente multiplicado por algo entre oito e vinte em relação ao seu valor de etiqueta no país de origem. Vou ser mais claro: um vinho que custa 10 euros no velho continente vai custar aqui entre 80 e 200 reais. E isso é simples de ser entendido: câmbio, importação, imposto, lucro e fome. Estou separando o lucro da fome porque uma coisa é compreender que o sujeito precisa lucrar, a outra é entender porque ele precisa lucrar famigeradamente.

Para completar, depois de tudo isso tem o que chamamos de etapas do vinho. Ou seja: na importadora multiplica-se por algo entre oito e vinte, mas da importadora o vinho vai para algum lugar, e o que mais assusta costuma ser o restaurante ou o hotel, onde não é incomum que o vinho até dobre de preço em relação à importadora. Assim: o que estava em algo como 8 a 20 vezes pode chegar facilmente a algo como até trinta vezes. E aqui vamos de novo: câmbio, importação, imposto, lucro, fome e etapas do vinho. E é essa última fase que eu não entendo muito bem. Explico: uma amiga que dirigia uma importadora passou a nos vender vinho diretamente, sem passar por sua própria loja. E ela dizia: vejam o que querem no site, me escrevam, eu mando entregar na sua casa, com boleto para 15 dias e 30% de desconto – “são as condições de restaurante”. Espere um pouco: a loja teria um custo de 30% e sem ele o restaurante que compra mais barato coloca, por vezes, o dobro do preço em cima do que o cliente pagaria na própria loja? Tá difícil.

Vamos a uma prova prática sem citar nomes. Um vinho espanhol de Ribera Del Duero, casa conceituada, crianza, no Brasil custa R$ 250. Numa boa casa de carnes em São Paulo sobe para R$ 330. E numa loja em Madrid sai por quinze euros. Faça a conta: 15 x 16,7 = aproximadamente 250 x 1,3 = 327. Perceba algo aqui: o dono do restaurante colocou “apenas” 30% sobre o preço da loja em que provavelmente comprou com bom desconto. Na primeira conta (x16,7) estão o câmbio (óbvio), os impostos mais pesados, a importação etc. Perfeito.

Peguemos um segundo exemplo de um bistrô do Rio de Janeiro. Um champagne conceituado custa R$ 500, na loja o mesmo produto sai por R$ 260 numa promoção, mas em Paris o mesmo vinho custa 28 euros. Voltemos às contas: 28 x 9,6 = aproximadamente 260 x 1,92 = 500. O dono do simpático restaurante colocou apenas algo próximo de 92%. Fácil! Isso porque é bem provável que em relação ao preço da loja ele tenha conseguido algum desconto.

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Fonte: Vinhos de Corte – imagem da Expand

Conclusão: não é fácil tomar vinho no Brasil, e em muitos restaurantes é tarefa desleal. Os impostos são pesados, o câmbio é duro, os custos de transporte são árduos, as leis são nervosas, o lucro é correto e a fome por vezes é bruta. Assim, só restam algumas saídas. A primeira: ao viajar curta muito cada garrafa aberta e invista em grandes vinhos. Aproveite! Aposte no que existe de bacana. A segunda: traga vinho, traga o que for possível dentro da lei. A terceira: no Brasil, beba em casa os maiores vinhos comprados aqui ou trazidos de fora e fora do lar procure restaurantes que se orgulhem de terem uma carta honesta em relação ao mercado – normalmente lojas-restaurante ou propostas que se orgulham disso. A quarta: procure, fique antenado em propagandas, veja os saldos e promoções e curta preços bem mais acessíveis. Se a lei é do mercado, a palavra promoção agrada e o consumidor deve zelar por suas estratégias. Saúde!