Em janeiro de 2015 tive a oportunidade de visitar a Herdade dos Coelheiros em Igrejinha, Alentejo, Portugal. Trata-se de um momento muito especial em minha vida, e farei questão de relatar isso com carinho aqui. À ocasião o que quero destacar foi a belíssima conversa que tivemos com o proprietário da casa, cujo um dos pontos destacou a necessidade de renovação da imagem do vinho para atrair o público jovem. De acordo com o argumento central o vinho seria visto, segundo pesquisas, como uma bebida mais elitizada de gente mais velha. E isso definitivamente não combina com parte do que os jovens descolados desejam. Assim, em tese, para garantir que bons vinhos continuem sendo produzidos, parte das vinícolas devem se preocupar com o ponto de entrada desse público no vinho como estratégia de captação do interesse. Com o tempo, o paladar se sofisticaria, mas se perder o ponto de entrada no consumo para a cerveja, as bebidas destiladas adoçadas etc. o vinho corre o risco de desperdiçar oportunidades únicas.

Com base em tais reflexões, nos foi mostrado um projeto de um vinho rosado, de cor bem viva, mais doce e leve que o comum. Alguns chamariam de vinho de verão, outros de vinho de piscina. Uma bebida alegre e vibrante para encantar os mais jovens. Perfeito: e não são poucos os exemplos que nos levam a isso. Não conheci o resultado final, e sequer sei se a Herdade dos Coelheiros chegou a um produto que efetivamente foi para o mercado. Mas em tempos recentes conheci dois bons exemplos de uma clara tentativa de atrair pela novidade jovem.

O primeiro foi o vinho azul. Por meses foi febre na Europa, sobretudo no verão de 2015, e de acordo com a Revista Adega o site oficial do ofertante da novidade – o Gik – a cor azul estava associada a “movimento, inovação, mudança, fluidez e infinito”. Nada disso sensibilizou a autoridade brasileira que suspendeu a venda da bebida por aqui por conta da utilização de corantes e produtos proibidos por nossas leis. Sinceramente falando para quem tem um mínimo de maturidade no mundo dos vinhos: não perdemos nada. Tomei um Gik em outubro do ano passado no aniversário da Ka. Presente de amigos queridos que levaram para a piscina do hotel onde estávamos hospedados. Como novidade foi bacana, mas sem apresentar as uvas que compunham o blend, sem grandes informações técnicas, com baixo teor alcoólico (11,5%), com doçura exagerada e sem qualquer expressão, ficou apenas na emoção da novidade e no carinho da atenção dos queridos amigos. Assim: coloquei o rótulo no meu caderno, mas não repito, apenas valorizo a iniciativa e entendo que muita gente deve ter adorado.

Gik

O segundo exemplo a Ka trouxe dos Estados Unidos no meio do ano. São exatamente 750 ml de um espumante, a mesma quantidade contida nas tradicionais garrafas. A novidade é que o volume vem numa caixa em formato de polígono, cor de rosa e prateado, repleta de brilho, em decoração que mais lembra uma caixa de boneca Barbie. Muito bacana. No interior quatro latas de 187 ml de um espumante denominado Sofia (blanc de blancs mini), homenagem à única filha, cineasta, do igualmente cineasta Francis Ford Coppola. Grudados às latas, canudinhos descolados que tornam a bebida ainda mais atraente para o consumo fácil e isento de sofisticação. Lembrou algo parecido, feito com a baby Chandon faz alguns anos, com rolha rosqueada de plástico e semblante de Guaraná Caçula. O espumante norte-americano, produzido na Califórnia a partir de uma combinação agradável de uvas, se mostrou bem razoável. Se o Gik parece apenas uma forma de atrair sem grandes compromissos com a qualidade, o Sofia é iniciativa que entrega uma bebida correta, seca, equilibrada e capaz de atrair para algo que representa um bom produto jovem.

sofia coppola

 

Imagens retiradas dos sites dos produtores