Harmonização ou casamento, a depender da língua que utilizamos são palavras que costumam mostrar a relação íntima entre uma comida e um vinho. Não foram poucas as vezes na vida que me deparei com emparelhamentos perfeitos e geniais. Alguns bastantes esperados, como aqueles entre queijos azuis e vinhos de sobremesa – sobretudo os brancos. Por vezes, inclusive, participamos de eventos em que um único vinho conseguiu se dar bem com todo um jantar. Foi assim nos arredores de Piza (Itália) e em Orange (França). Sobre tais momentos prefiro escrever textos mais específicos.

Assim, hoje quero tratar de um jantar de boas vindas ocorrido essa semana. Estive no congresso da Associação Portuguesa de Ciência Política para apresentar dois trabalhos. Na segunda-feira cheguei à Lisboa, para de lá rumar para o norte – o evento foi em Braga, 400 quilômetros para cima.

Na casa de familiares queridos jantei com gente muito bacana. E fazia anos que não via tantos vinhos harmonizarem com tantas comidas maravilhosas. Na noite de iguarias geniais contribui com duas belíssimas garrafas: um Viña Pedrosa Crianza, espanhol que meus primos adoraram na primeira vez em que lhes levei duas garrafas; e um Alvarinho premium fantástico chamado “Curtimenta” do mágico Anselmo Mendes – quem me acompanha aqui sabe que é óbvio que eu escolheria um Alvarinho. Pelos lados do pessoal de Portugal o casal anfitrião realizou um jantar magnífico com foie gras, porco alentetejano, uma tábua de queijos (moles e duros) e embutidos, além de doces geniais, como um mousse de chocolate e uma torta com frutas vermelhas. O casal de amigos queridos que se juntou a nós apareceu com um vinho de Colares tinto de 2003, à base da raríssima casta Ramisco, e um Quinta das Tecedeiras VCP, o que de acordo com explicações mais técnicas é “quase um Porto Vintage”. Fantástico! Como é bom conviver com quem entende demais de vinho e aprender mais um pouco!

Prato 2 Prato 1

E assim, aqui ficou a prova de que as coisas certas, com os vinhos certos, garantem prazer absoluto. Primeiro o Alvarinho: o que foi o encontro dele com o porco alentejano que acompanha batatas e mariscos? Isso mesmo: carne suína e almeijoas. GENIAL! E para mim a maior surpresa e o melhor casamento. Foi tão sublime que repeti o prato quatro vezes. Depois, devo destacar o encontro dos embutidos – com bastante gordura – com o vinho espanhol. Sublime! Adiante, duas opções bem interessantes: o Colares foi muito bem com queijos duros, bem envelhecidos, sobretudo com um que tinha aspecto alaranjado e cheiro intenso. Aqui temos a junção de “dois seres” que certamente causariam dúvidas em quem se arrisca menos no mundo da enogastronomia. Mas estava divino. Por fim: o encontro do LBV com os queijos moles, como um Serra da Estrela magnífico. Não gostei da relação dele com o mousse de chocolate, mas num jantar tão especial e tão harmonizado, só restou dizer: viva os noivos! E casamentos não faltaram.

Vinhos