Em nossa primeira noite juntos no coração dos vinhedos da Floresta Negra não resistimos ao belíssimo restaurante do hotel, tampouco ao vinho produzido na própria casa. Duas garrafas daquele Riesling, de safras diferentes, mostraram muito para nós e já foram narrados aqui. Na noite anterior havíamos bebido uma boa edição dessa uva em outra cidade. A curiosidade estava no ar e entendemos que seria bem bacana ir ao supermercado para aqueles tradicionais arranjos de hotel: bom vinho e petiscos geniais no quarto. Foi o que fizemos.

Lugar elegante, com uma bela adega, o mercado visitado nos deu chances reais de escolha. Ficamos entre três rótulos que deviam custar pouco mais de dez euros, o que para um Riesling local é garantia de algo muito decente. A opção final foi um Schloss Ortenberg – Granit, que depois de levemente resfriado nos ofertou algo muito agradável. Tão legal que resolvi pesquisar, no computador, um pouco sobre a vinícola.

No dia seguinte estávamos nós no castelo (Schloss) de Ortenberg, pois além da bebida bacana notamos que estávamos hospedados muito perto do produtor. O sábado estava reservado para um festival medieval, e chegamos cedo. As barracas e atrações estavam sendo montadas, e foi possível entender o que ocorreria ali. Chamaram-nos a atenção as corujas e os falcões domesticados. Lindos, mas com aquele olhar triste de quem preferia estar solto. Percebemos ser mais um desses festejos que perdemos por poucas horas. Paciência. Claro que podíamos esperar e partir para a Suíça à noite, mas o desejo de chegar à Basiléia também era grande, e sentir o clima do que ocorreria ali nos agradou bastante. Passear pelo interior do castelo foi algo bem agradável. Valeu a visita.

Saindo de lá, a vinícola precisava ser encontrada. Placas pequenas pelas ruas estreitas não deixaram dúvidas de que estávamos no caminho certo. E chegamos à casa que em sua página se orgulha de dizer que deseja ser visitada e surpreender. Rua pouco íngreme e relativamente estreita, vinhedos próximos ao asfalto, e lá está a moderna construção. Nada muito grande, e um bom gosto que mistura madeira, vidro e alvenaria. Vista genial para vinhedos e ambiente aconchegante e moderno. A língua mãe não é de nosso domínio, mas as mulheres que nos atendem são simpáticas, finas e dispostas ao inglês – inclusive foram elas que nos explicaram em mais detalhes a Feira Medieval. A que ficou mais conosco pediu desculpas sem graça por alguns erros de pronúncia, e confesso que estava tão maravilhado que se ela não tivesse chamado a atenção nada teria sido percebido. Muito bacana.

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Quando dissemos que beberamos o vinho deles na noite anterior sentimos um ar de agradecimento, e percebemos que aquele vinho extremamente correto era apenas um dos rótulos mais simples, vendido a cerca de nove euros – nada muito diferente do supermercado. A partir das nossas percepções, duas garrafas vieram na caixa: o Alte Reben (vinhas velhas) e o 1782. O primeiro foi aberto durante as férias e mostrou “acidez atrevida” e “doçura agradável”, conforme prega o site. Comentário preciso, o vinho nos encantou e elevou a curiosidade para o melhor de todos eles. Se o exemplar de nove euros era bom, e o de onze euros era bem melhor, imagine o de quinze. Um dia eu conto.

WSO-Meisterstueck_Spaetburgunder-AlteReben-600x1000Klingelberger_1782_Ortenberg_1-600x1000 WSO-Meisterstueck_Klingelberger-600x1000 WSO-Urgestein_Granit_KlingelbergerTrocken-600x1000

Fonte: vinícola

A visita não terminou quando colocamos as duas garrafas sobre o balcão. Nossa anfitriã nos perguntou se gostaríamos de algo para provar, e não foi possível resistir. Ficamos curiosos com uma quantidade expressiva de opções no campo da Pinot Noir – Spätburgunder. Percebendo que iríamos consumir, ela resolveu ser ainda mais gentil. Começou com exemplar de entrada, que mostrou uma doçura frágil e difícil de aceitar. Subiu quatro degraus e chegou em dois vinhos muito especiais, que passam por carvalho e absorvem o que a madeira nos dá de melhor. Entre o vinho de quase vinte euros e aquele que custava doze ficamos com o segundo por opção e preferência – já aprendemos que nessas horas não se faz economia por conta de cinquenta reais. O que mudava entre os dois, aparentemente, era o vinhedo. O mais caro nas encostas do castelo, mas o outro carrega o “vinhas velhas” e um toque defumado bem interessante. Veio para o Brasil como algo raro, resultado de uma visita simpática a uma casa muito agradável.

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