Tenho um amigo querido com quem adoro tomar vinho. A conversa flui, as risadas se acumulam e as experiências em torno dos rótulos não têm qualquer preconceito. Com ele tomamos de Colares branco ao laranja ucraniano, de Chianti ao Crianza de Ribera, passando por brasileiros dos mais diversos, e terminando com tragédias ao estilo bolivianos e peruanos. Sua ida para a Itália deixou um vazio, e sua conta no Vivino é repleta de fotos que me divertem bastante. Como sei que a recíproca é verdadeira, tenho certeza que em breve estaremos juntos.

Esse amigo já havia morado na Itália antes e sempre me falou das feiras de vinhos realizadas por produtores que se juntam nas ruas de pequenas cidades, abrem suas garrafas, vendem taças de seus vinhos, cantam bela música, sentam-se em mesas coletivas, comem o que é típico e literalmente vivem a vida. Sempre sonhei em me ver num lugar assim com a Ka: provando, vendo, conhecendo, sentindo o cheiro e o sabor. E esse dia chegou. Não foi exatamente dessa forma, mas me senti tão bem que acredito que tenha atingido o que imaginava.

Chegamos em Narbonne, sul da França, pertinho da fronteira com a Espanha. A hospedagem numa vinícola vai merecer capítulo especial futuro. Na segunda noite, sexta-feira 13 de julho, véspera do dia da Tomada da Bastilha, seguindo orientações do dono do hotel fomos atrás de conhecer a cidade e sua belíssima catedral, calçadões arborizados às margens do rio, mercado municipal e ruas estreitas. Para jantar, optamos por seguir a dica de Messier Jacques e comemos bem no En Face. Nada muito especial, mas o Blanc de Demoiselles, blend a base da catalã Macabeo, a despeito de doçura acentuada, foi razoavelmente bacana.

blanc_des_demoiselles

Fonte: Vinícola

Enquanto jantávamos, do outro lado do rio percebíamos uma movimentação que incluía muita gente e música ao vivo. Sem compromisso com o relógio, e já sob os últimos raios do tardio sol do verão europeu, atravessamos uma simpática ponte e nos deparamos com o que meu amigo sempre nos descreveu como uma feirinha de vinhos e gastronomia local. Localizados próximos da praia, não eram poucas as barracas onde se destacavam porções de ostras, mariscos e camarões. Naturalmente não faltavam também queijos e embutidos. Tudo num dos lados de um longo corredor de barracas iluminadas e repletas de alegria. No meio, as tais mesas coletivas, e ao centro dessa passarela um palco onde dois músicos cantavam sucessos dos mais diferentes. Claro que se um lado tinha o que comer, o outro só poderia ter o que beber. E naturalmente estamos falando de vinho local. Noite quente, verão intenso, e quem reinavam eram os brancos e os rosados. Simpáticos, dispostos em baldes de gelo a preços muito convidativos. As taças custavam algo entre 2 e 4 euros, as garrafas não passavam de 15 ou 20. Com uma garrafa na cabeça, algumas cervejas bebidas na piscina, e uma simpática prova de vinhos no hotel-vinícola, infelizmente desistimos de beber. Mas a Ka não resistiu e comprou um prato delicioso de camarão, que teria harmonizado de maneira sublime com qualquer um daqueles rosadinhos que repousavam nos baldes, sob os olhos alegres de seus orgulhosos produtores em noite festiva.

Narbonne