Sábado de Carnaval acordamos em Porto Alegre, montamos na Ecosport vermelha alugada e em quatro pessoas rumamos para Carlos Barbosa. A terra do futsal, e principalmente da Tramontina, não é exatamente o que podemos chamar de uma cidade bonita. Mas trata-se de lugar tranquilo, extremamente organizado, que podemos comparar facilmente com algumas cidades pequenas da Europa. Povo amigo, gente simpática e a gigante industrial brasileira brilhando. À noite, sozinho, depois do jantar, saio caminhando pelas ruas como se não estivesse no país que mata mais de 60 mil pessoas por ano com arma de fogo. Passeio suave, com direito a uma cerveja artesanal no Boteco da Estação. Lugar simpático que agrada a quem precisa ter uma artesanal bem-feita por perto quando está passeando e relaxando. O dono é um capítulo à parte: amável, falante, um senhor aposentado e bem-humorado. Valeu o passeio.

Mas antes disso aconteceu muita coisa boa. Foi dar entrada no apartamento alugado e partir pra Bento Gonçalves encontrar o prefeito da cidade, que esteve comigo em sala de aula do Centro de Liderança Pública, onde leciono. A dica era um evento de espumantes que ocorreria nos vinhedos da Aurora – um Centro Técnico que encontrei vazio em 2007. Confesso que esperava algo legal, mas nunca o que vivenciamos. Foi um evento muito, mas muito agradável. O local fica em Pinto Bandeira, que até dezembro de 2012 era distrito de Bento. Cidade rica, com muito vinho e produtores geniais. Sem qualquer mágoa política aparente, representantes eleitos das duas localidades se encontram e confraternizam. Descubro logo que o vice-prefeito local também esteve comigo em aula. A foto, a alegria e a boa conversa tomam contam. Somos apresentados a alguns empresários, adoradores de vinhos e jornalistas. Ao fundo música ao vivo, e o dia lindo ajudou demais. Na entrada: repelente. Pois é, não imagine que você vai ficar em meio a um jardim, ao lado de um parreiral, e não despertará a curiosidade dos “nativos”. Mas tudo tranquilo. Nada agressivo.

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A festa é completada com um bom sanduba de porco e uma sobremesa com geleia de pêssego. Ou seria damasco? Ando longe dos doces, por isso a desatenção. Mas o que desejo mesmo é falar dos vinhos. Pelo cartaz da VINDIMA 2019 já deu pra notar que o evento era algo ao estilo pague, coma e beba à vontade. Isso mesmo. Tinha ainda suco de uva e água, a bebida de um daqueles que estavam no carro e foi sorteado como motorista da rodada. Sorte que não fui a bolinha de papel capturada nas mãos da Ka. Pois então vamos em frente! Esse é um legítimo “baile de Carnaval” para quem gosta de espumante. A melhor balada! O original desfile.

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A pequena lousa ao lado da mesa de bebidas dava conta de explicar o que tínhamos ali. Ao todo oito rótulos. E sem qualquer tumulto ou aglomeração, teve bebida até o final: 19h30, de acordo com o convite. E olha que posso afirmar: o estoque passou um pouco disso. Desse acervo escolhido a dedo, e esses vinhos estão longe de fazerem parte do que existe de mais simples nessas vinícolas, consegui provar cinco. Não que tenham faltado dos outros três, mas fui me apaixonando pelo que bebia e findou “não cabendo” o conjunto inteiro.

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O primeiro que provei foi o rosé da Cave Amadeu, que estava bem correto. E logo passei para o blanc de blanc da Don Giovanni. Aqui prometi que ficaria nele para o resto do evento, mas essas fidelidades carnavalescas passam rápido. Saltei para o tinto da Valmarino, pois em meio às conversas ouvi que esse era o melhor vinho para o sanduíche de carne de porco. Desconfiado aceitei a proposta e gostei do que bebi. Mas logo fui tentado a provar o blanc de noir da Don Giovanni, e aqui me mantive fidelizado por boa parte do evento. Ao menos umas três taças bem servidas que estavam deliciosas. Acreditei que não havia espaço para mais nada, já havia comido a sobremesa, bebido muita água e muito suco, mantendo o equilíbrio e a paz. Mas percebi que precisava de uma última provinha, e foi assim que conheci o Valmarino Nature. Indiscutivelmente, para o meu paladar, o que existia de melhor naquela festa. Não conheci o Geisse Nature, o Aurora e o Moscatel, mas pra ser melhor que esse último tem que ser especial demais. Boa parte dos vinhos aqui estava na faixa dos R$ 80 a R$ 100 nas vinícolas, esse último eu fui buscar no produtor e paguei menos de noventa reais. Na Sonoma ele é vendido por mais de R$ 120, e posso dizer que vale. Por sinal: vinho safrado, de 2013, vale mais do que MUITOS Champagnes que bebi na França. Pode provar. E não se arrependerá.

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