Os desafios trazidos pelo aumento da tributação, desvalorização do Real e elevação da carga tributária sobre os vinhos fez com que muitos importadores aprimorassem a capacidade de negociação. Além disso, apostas precisaram ser refeitas. Como oferecer um vinho de qualidade razoável por valores minimamente acessíveis?

Um dos possíveis segredos talvez esteja associado à ideia de investir sobre regiões pouco conhecidas do público em geral, onde parece possível encontrar vinhos muito bons e mais simples. Vende-se a bebida, e não o glamour regional. A partir disso, resta ao empresário torcer para que os rótulos importados caiam nas graças do público consumidor. E entendo que duas importadoras têm trazido para o Brasil dois rótulos que custam R$ 55 ou menos e vão agradar quem provar. Coincidentemente se tratam de bebidas de uma mesma região. O local, na Espanha, não está associado às consagradas Ribera del Duero e Rioja, às meteóricas e geniais Priorat e MontSant, tampouco às simpáticas Jumilla e Toro, quando falamos em vinhos tintos. Estamos falando de Campo de Borja, a oeste de Zaragoza, pouco abaixo de Navarra, cujas imediações costumam ter mais tradição que esse ponto em especial.

O principal diferencial aqui é que ao contrário de parte significativa da Espanha, onde a Tempranillo reina absoluta, a Garnacha é a principal uva – algo que ocorre de forma bastante comum pouco ao sul Campo de Borja, nas denominações de origem situadas na Catalunha. No site do conselho que cuida do vinho local uma frase é emblemática: “The Empire of Garnacha”. Pois bem. Trata-se de um império que parece fazer vinho honesto a preços acessíveis para esse universo, e deixarei aqui duas dicas que ilustram vinhos corretos.

Na Mistral é possível encontrar por R$ 55 o Ámphora, safra 2013, da Santo Cristo. Trata-se de um vinho correto, honesto, com a força da garnacha e uma correção muito agradável. A bebida é jovem, não passa por barrica de carvalho e expressa frescor que mescla fruta e mineralidade. Simples, mas uma bela opção.

amphora

Na World Wine, por sua vez, é possível encontrar o Borsao. O Selección Garnacha se aproxima dos R$ 90 e é muito gostoso, mas mantendo o compromisso do texto, vou me referir ao Borsao Clássico, que carrega garnacha, cabernet e tempranillo. A caixa desse vinho, contendo seis unidades, estava sendo vendida a um valor cuja garrafa custava pouco menos de R$ 40. Honesto? Correto? Por esse preço sim, pra lá de decente. E o vinho é agradável, mais frutado que o anterior.

borsao

Com base em tais dicas, e diante de um cenário econômico desafiador: ficam as dicas. Curiosamente, nos dois casos, não localizei o vinho nos sites das vinícolas. Seriam rótulos especiais para uma realidade econômica mais restrita? Ou deixaram de ser produzidos? Espero que a hipótese um seja a verdadeira. E pode apostar nos dois vinhos, certamente se divertirá com o resultado. A garnacha é uma uva muito gostosa e Campo de Borja passará a fazer parte de suas regiões como algo a ser melhor conhecido, e capaz de render bebidas honestas a preços acessíveis.