Não sei exatamente porque estou escrevendo esse texto, pois não tenho tanta experiência em clubes de vinhos. Numa loja de cervejas um amigo me falou sobre a Sociedade da Mesa. Tinha parceria com o banco do qual sou cliente, ganhava brinde especial, não pagava taxa de rolha em alguns restaurantes, falava o nome dele para que também fosse agraciado com um par de taças e assim foi que entrei.

Até a data em que fiquei uma coisa me irritava bastante. Tinha vezes que recebia quatro vinhos iguais. Por vezes dois pares. Mas era não gostar e a bebida empacava na estante, ou virava presente simples. Mais adiante entendi que se eu telefonasse para o clube podia fazer algumas alterações na caixa, e até mesmo desistir da entrega. Fiquei mais tranquilo, mas um dia me afobei, não liguei, viajei, os vinhos chegaram sem eu pedir – pois essa era a regra – e eu estava fora. Caixa na portaria, sol, frio, apoio de pé e: cansei! Comecei a achar que estava tendo trabalho para uma das coisas que mais me geram prazer. Cancelei as entregas. Mas ainda existo como sócio, o que literalmente não serve para nada, pois devo ter feito, no máximo, mais dois pedidos.

Do que tomei por lá, sempre associado à categoria mais barata, pois nunca aceitaria receber na sorte uma caixa com vinhos caros, gostei de algumas coisas. Primeiro das bebidas de países menos convencionais para nosso mercado. Um rótulo inédito da Romênia razoável, uma tragédia da Geórgia, dois austríacos que completaram nossa pequena experiência no país, e assim foi. Ademais, alguns vinhos respeitáveis para a faixa de preços – cerca de R$ 50 enquanto fui sócio. Destaco dois deles. Um fiz até encomenda extra, o outro, quando fui pedir mais havia acabado. O primeiro é o Menciño, de Valdeorras, na Espanha, feito a partir da casta Mencia (Jaen). Um vinho fácil, para o cotidiano, e bem honesto. O segundo o Altùris, um blend de Merlot com Refosco, uma uva do norte da Itália que me fisgou desde a primeira experiência em Firenze. Muito bom, vindo direto de Venezie. Belo vinho!

alturis mencino

Pra completar a história troquei o clube mais comercial, alguns poucos anos depois, pelo recebimento de três rótulos mensais de uma pequena loja na Vila Leopoldina – a Cavatappi. Um negócio simpático, que isenta da taxa de rolha os clientes do restaurante vizinho – que eu já fraquentava – numa lógica mais de bairro onde somos tratados pelo nome. O sistema é bem interessante. No começo do mês ocorre uma degustação com beliscos às segundas-feiras, onde os vinhos são servidos. Quem gostou já leva as três garrafas, diferentes, por R$ 150 mensais. Existe a opção de “passar a vez” ou ainda de trocar por outros vinhos da loja. Quem não comparece os terá em casa, e quem não gostou do que está por receber pode cancelar. Tirando o entusiasmo inicial parece algo mais gostoso, mais condizente com o prazer de escolher, degustar, trocar garrafas e ideias. Que seja assim!