Já postei aqui que possuo uma velha mania: todos os vinhos que eu e a Ka bebemos juntos, ou que é aberto em nossa casa, tem o rótulo colado em cadernos de recordações que se transformam em verdadeiros diários de nosso casamento. Não é incomum recorrer aos escritos e suspirar de saudades de alguma viagem, momento, comida, confraternização com amigos etc.

Faz alguns poucos anos resolvi contabilizar todos esses cadernos em uma grande planilha que alimento a cada garrafa aberta. E a coisa começou a ficar sofisticada, pois foi possível verificar tendências e perceber nossas aventuras prediletas. Fechamos 2016 acumulando 1.000 rótulos desde 2011. Ao todo são 1.033 até hoje. E algumas curiosidades.

Em relação ao tipo de vinho, rigorosamente dois terços são tintos. Os brancos passam de 16%, os espumantes de 10% e os rosados ficam abaixo de sete pontos – confesso que aqui encontro um problema, pois eu gostaria muito de tomar mais desses rosês.

Em relação às nacionalidades, quase 20% do total é espanhol e isso soma mais de 200 experiências. Com mais de uma centena, outros cinco países: França (143), Portugal (139), Itália (110), Argentina (108) e Brasil (103). Curiosamente, quando divido tais resultados por anos, percebo nitidamente que os italianos chegaram em casa em 2014 – a partir de nossas duas viagens para lá – e chilenos e argentinos deram espaço para brasileiros e uruguaios em nossas preferências sul-americanas.Mas o que fica nítido é que gostamos mesmo do velho mundo, do ambiente ocidental da Europa, onde é possível encontrar vinhos em conta por aqui que nos agradam mais que aqueles produzidos no Novo Mundo – Chile, África do Sul, Austrália e Estados Unidos somados, por exemplo, não atingem a França.

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Fonte: Wine.com.br

Já no que diz respeito às uvas, o destaque é para a Tempranillo (e suas variações) e Cabernet (e suas variações), o par que ultrapassa 100 vinhos, considerando que em caso de blends contabilizo sempre a uva predominante – tarefa que por vezes exige muita pesquisa. Ao todo registramos 90 castas, e 24 delas superam uma dezena de vinhos.

Tempranillo

Fonte: Wine Guide – Virgin

Diante dessas três variáveis o mais curioso é fazer cruzamentos que nos levam ao que efetivamente tomamos. Considerando os seis países mais presentes, ficamos nos seguintes perfis de vinhos:

– Espanha – predominam fortemente os tintos à base de Tempranillo, plantada em boa parte do país, mas também a Garnacha e seus tintos. Os brancos a partir da Verdejo, que tanto gostamos, e os espumantes que levam Macabeo, também aparecem.

– França – o mais eclético dos países para nós. A Chardonnay nos oferece os maravilhosos Champagnes e belíssimos brancos – que particularmente não curto muito, mas sei que são divinos. Os rosados a partir de Grenache (Garnacha), e os tintos bastante respeitados de Pinot Noir (Borgonha) e Merlot (Bordeaux).

– Portugal – os tintos dominam. Predominam os blends, com destaque para os “dirfarces” da Tempranillo – Aragonês no Alentejo e Tinta Roriz no Douro. Aqui, Touriga Nacional, Touriga Franca e Trincadeira completam a seleção do que existe de mais típico no país. Mas para fechar a lista lusitana os brancos à base de Alvarinho, a melhor uva para os espetaculares verdes.

– Itália – imperam os tintos, e aqui o par de uvas mostra exatamente o que existe de mais forte e tradicional. A Sangiovese, que predomina na Toscana, e a Nebbiolo que reina no Piemonte.

– Argentina – repousa absoluta a Malbec e sua potência para os tintos encorpados que, nos últimos anos e em vinhos mais baratos, me incomodam por uma exagerada doçura.

– Brasil – duas uvas explicam de forma plena o que efetivamente tomamos. Os tintos a partir de Cabernet e os espumantes que têm por base a Chardonnay.

Com base em todo esse esforço, que alguns amigos “carinhosamente” tratam como loucura ou piração, consigo ver mais ou menos o que gostamos – com destaque para a Espanha! E a partir desses registros torna-se mais fácil escolher sem errar. A única coluna do arquivo que por vezes prefiro ocultar, e já pensei várias vezes em deletar, é a dos preços. A soma disso tudo remete a um valor que prefiro ignorar…

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Fonte: Clube dos Vinhos