Dia desses entrei no Vivino e fotografei um vinho chileno que estava bebendo. Ao terminar a avaliação de algo muito ruim e caro pro que entregou (R$ 56,00) – De Gras reserva Cabernet Sauvignon – fui informado que era minha 16º  avaliação de cabernets chilenos, o que me colocava como o brasileiro de número 10.306 em matéria de avaliações desses vinhos no nosso país. Curioso, fui ver o que tenho em matéria de malbecs argentinos, por exemplo. E lá estava eu com 18 avaliações, na posição de número 16.538. As colocações me agradam, pois chilenos e argentinos definitivamente não fazem mais sentido para mim. No continente, gosto de brasileiros e uruguaios. Mas a pergunta é: o que tenho próximo disso, entre 16 e 18 avaliações, e como estou nos rankings brasileiros do Vivino nessas outras categorias?

Encontrei três outros estilos denominados pelo aplicativo: Vinho Verde de Portugal (17 avaliações), tintos da Toscana (18 avaliações) e tintos do sul da Itália (18 avaliações). No primeiro sou o avaliador de número 209, no segundo estou em 2.089º e no terceiro em 1.246º. Conclusão óbvia: tomando o aplicativo por base, os brasileiros bebem muito mais chilenos e argentinos do que portugueses brancos e italianos tintos – ao menos quando o assunto são esses estilos acima apresentados. Perfeito. E onde quero chegar?

Bons vinhos da Toscana podem custar muito caro e vinhos verdes feitos a partir de Alvarinho também podem ser hostis aos bolsos. Mas em linhas gerais, vinhos do sul da Itália são encontrados aos montes custando barato em nosso país – ofereça atenção aos Nero D’Ávola, um vinho mais delicado e por vezes um pouco mais doce que a média. Não preciso dizer que os chilenos e os argentinos também podem custar caro, isso é óbvio. Mas imagino que quantidades expressivas dos vinhos desses países consumidos aqui são os mais baratos. A pergunta então: por que não trocamos de vinho barato? Por que não experimentamos vinhos de outros lugares do mundo? Bebedores europeus de vinhos bebem pouco produto importado. Meus primos portugueses amam e bebem muito vinho português. Meus amigos da Espanha bebem muito vinho espanhol. O mesmo ocorre com quem conheço e vive na França e na Itália, por exemplo. Argentinos e chilenos não são diferentes em seus países, mas pergunto novamente: por que no Brasil precisamos beber vinho importado de dois lugares apenas? Por que tanto argentino e chileno? Por que não bons vinhos nacionais a preços idênticos em matéria de qualidade? Por que não um uruguaio? Um português? E um italiano?

Dia desses abri em casa um português de R$ 29 chamado Pauliteiros. Região frágil, chamada Ribadouro, sequer safra tinha. O tinto estava honesto. Nenhuma sumidade, mas garanto que melhor que um “Santa Chilena” qualquer ou um argentino de valor equivalente, por vezes mais caro. Dias depois foi a vez de um Faces Merlot, brasileiro, na casa dos R$ 40 que estava bem correto. Concordo que vinho seja o que nos agrada, e que Malbec argentino e Cabernet chileno agradam muita gente. Mas ouse. Experimente. Não desista na primeira frustração, não dê passos atrás. Não volte sempre no mesmo vinho. O legal dessa bebida é descobrir. Desvendar. Provar, rir e se aventurar. Saúde!

Faces Pauliteiros

Fonte: Wine e Cavatappi