Almoço com gente querida, que amamos de verdade não tem preço. Comida feita com carinho, cuidado e tempo. A cerimônia começou por volta das 13h, e fomos comer eram quase 17h. A coisa terminou eram cerca de 21h após a sobremesa. O relógio foi um acessório pouco explorado, portanto sequer sei se estou sendo preciso no que digo. Mas posso afirmar: estava tudo muito gostoso, bem feito e carinhosamente produzido. Se trabalhamos a semana inteira para ter um dia assim, sinal de que somos plenamente felizes ao menos algumas horas. Valeu!

Diante de uma descrição dessa natureza é preciso dizer que a comida foi comprada no dia. Pra não dizer horas antes de ser servida. A Peixaria Perdizes, na Rua Turiassú, é parcialmente responsável pelo sucesso. Gostamos dos produtos e começamos com um bom prato de camarão no alho. E aqui fomos de cerveja. Quando o caldo de lula foi pra mesa abrimos o primeiro vinho. Alvarinhos por menos de R$ 100 no Brasil invariavelmente vão para casa. Assim foi com o espanhol galego Marieta. Rótulo lindo, R$ 60 no Evino e algumas semanas de climatização. Infelizmente, mesmo sendo de Rías Baixas, onde se costuma ter vinho mais mineralizado e ácido, esse estava exageradamente doce para o meu paladar. Não gostei, apesar de a comida tê-lo ajudado bastante. Aqui, sinceramente, não repito, apesar de o pessoal ter gostado, ou ao menos o respeitado. Eu tô fora.

Marieta

Fonte: Evino

Mas a peixada ficou pronta algum tempo depois e a história mudou completamente. Faz cerca de um ano e alguns meses que encontrei um vinho laranja da Bulgária no Prosa e Vinho da Galeria Metrópole, no centro de São Paulo. Posso até estar enganado, mas à época era o vinho mais caro dessa simpática loja-bar paulistana. Dado o encanto com a combinação entre país e tipo de bebida levei sem pensar duas vezes. Deve ter custado algo em torno de R$ 130. E o que nos entregou valeu cada centavo despendido. Com a peixada ficou divino, mas por si só desempenhou demais.

A revista Adega define os vinhos laranjas da seguinte forma: “os que fazem vinhos laranjas preferem que suas bebidas sejam chamadas de âmbar. O termo foi cunhado em 2004 por um importador inglês e foi se sedimentando. O que os define é serem vinhos de cepas brancas tratados como se fossem vinificados para tintos. Ou seja, os sucos das uvas são mantidos por longo tempo em contato com as cascas, adquirindo, desse modo, elementos como polifenóis, alguma cor (alaranjado ou âmbar) e textura rugosa. Alguns deles são melhores descritos por termos como “viscosos” ao invés de “densos” ou “de bom corpo””.

Pois bem: o nosso búlgaro estava âmbar e era de Sauvignon Blac, atendendo pelo nome de Villa Melnik – Orange. Rótulo simpático e família com longa tradição na produção, entregou uma bebida muito bacana em nossa harmonização com receita mais intensa de um badejo delicioso. No portal da vinícola o orgulho da bebida produzida e dos prêmios recebidos, com a seguinte descrição: “aromas complexos, com notas de almíscar, samambaia verde e frutas tropicais maduras. O corpo é redondo, suculento e picante, com um final longo e memorável”. Sinceramente o green fern e o musk eu não tenho certeza sobre o fato de termos encontrado, mas as frutas maduras e a percepção do corpo eram efetivamente reais. Vinho muito incomum para nosso paladar ocidentalizado e uma bebida para ser tomada sem pressa. Foi o que fizemos. Aliás, foi o que simbolizou o dia inteiro. Saúde.

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Fonte: vinícola