Estava mesmo precisando de uns dias de descanso pra retomar meus textos sobre essa paixão deliciosa. Em meio à pandemia temos assistido às notícias que tratam de dois pontos essenciais para o universo dos vinhos: o câmbio impacta o preço da bebida, que tem subido de forma consistente, e o consumo no formato de delivery tem aumentado bastante – o que em alguns lugares também pressiona os valores cobrados. Aqui temos um ponto interessante: as pessoas que consumiam vinho em restaurante não devem estar estranhando tanto o preço das lojas, mesmo com os aumentos. Sabemos que à mesa essa bebida se torna proibitiva no Brasil. Já quem sempre comprou em lojas percebeu a disparada, e o que tem nos salvado são os vinhos nacionais e algumas condições geniais de aquisição. É tempo de valorizar as lojas do Rio Grande do Sul e as vinícolas locais que têm feito ótimas entregas zerando frete e tudo o mais.

Com base nessa percepção, nos últimos dias fiz um pedido à Boccati, loja de Caxias do Sul, que em tempo minimamente razoável entregou a valor de frete zero algumas garrafas aqui em casa. Bastou passar de R$ 300, algo que podemos fazer entre amigos, vizinhos ou quando nossa adega vai ficando muito vazia. Pedi sete garrafas e duas delas eu destaco aqui em condições muito especiais. Preste atenção e fará bons negócios.

São dois tintos, feitos da uruguaia Tannat em solo brasileiro. Um deles eu já conhecia, o outro visitei a vinícola, almocei lá em 2019, mas não havia provado esse rótulo. Ambos me custaram a mesma coisa na loja gaúcha: R$ 47, ou seja, algo absolutamente honesto pelo valor e, sobretudo, pelo que me entregaram.

O primeiro é o Vallontano Reserva 2014. O que encontrei ao abri-lo, a despeito de seus seis anos e de apenas 12,3% de álcool foi um vinho muito carregado em notas de carvalho. Estava bom, gostoso, potente e valeu cada centavo do valor dispendido. Terminou um pouco menos vibrante, mas valeu demais. Duvido que seja possível encontrar por menos que isso em São Paulo e volto a insistir: a compra no Rio Grande do Sul compensou demais.

tannat_2014

O segundo é o Casa Venturini Reserva 2017. Conheci esse vinho numa feira em São Paulo faz anos atrás e já falei dele aqui em outros momentos. Mas enfatizar é essencial: as safras passam e ele não perde a potência e a elegância representadas pelo imponente cavalo desenhado em seu rótulo. Aqui em São Paulo já o vi flertando com os R$ 80, o que parece exagero.

tannat V

Acho esse segundo vinho mais equilibrado e menos intenso no carvalho que o primeiro, e se tivesse que escolher, com dor no coração, ficar com ele. Como a dificuldade de escolha é grande, deixo então aqui a minha mais sincera sugestão: faça como eu e beba os dois. Verás que a esse preço é raro encontrar um vinho importado tão correto. Saúde!