Anoto praticamente tudo o que bebemos de vinho nos últimos sete anos. Em tempos mais recentes isso virou quase uma obsessão. Já falei sobre meus cadernos de rótulos aqui, e a respeito de minhas planilhas. Essa semana uma prima querida me escreveu pedindo dicas de algo semelhante a um vinho espanhol que tomamos juntos. Isso me inspirou pra esse texto.

As duas uvas que mais bebemos até aqui são basicamente as essências para grandes tintos. Mas curiosamente uma delas expressa um país, enquanto a outra é extremamente pulverizada pelo mundo. A primeira é a Tempranillo, e não escondo de ninguém que amo os vinhos espanhóis. Seu nome remete à palavra temprano, ou seja: cedo, associada à lógica de amadurecer um pouco antes das demais. Outros nomes são dados à casta, como Tinto del País, Tinta de Toro, Ull de Llebre, Cencibel etc. Mas não existe espanhol que beba vinho e não conheça a palavra Tempranillo. O cultivo é tão expressivo que ultrapassou a produção de Garnacha no começo do século e só perdia no país, faz alguns anos, para a branca Airén, utilizada fortemente em blends. As regiões de Rioja e Ribera del Duero produzem os vinhos mais elegantes e conhecidos mundialmente com base na Tempranillo, a uva exigida em suas denominações de origem.

Tempranillo

Fonte da imagem: Wikipedia

Em Portugal essa mesma casta recebe dois outros nomes famosos: Aragonez no Alentejo e Tinta Roriz no Douro, onde os resultados são expressivos e marcam os blends que caracterizam os vinhos lusitanos. O peso da Espanha no meu consumo pessoal de Tempranillo, no entanto, é muito mais expressivo que a participação portuguesa: cerca de 80%, com Portugal marcando aproximadamente 15%, a Argentina com pouco do que provamos e o Uruguai com um Bouza que, combinado à Tannat, produz belíssima bebida – na Castillo Viejo também se faz essa combinação.

O que bebemos de mais especial dessa uva, vindo da Espanha, são os vinhos de Vega Sicília, degustados no local com direito ao especialíssimo Único e, alem disso, três safras de Alión – três garrafas de 2006 somadas a um exemplar de 2003 e outro de 2011. Atenção também para o Viña Pedrosa Gran Reserva 2000 dos meus 40 anos, e alguns crianzas da casa que estavam muito bons – esse foi o vinho que inspirou minha prima a me escrever. Da Pesquera destaque absoluto para o Reserva Especial 2003 que estava absolutamente divino. Indico também um Flor de Pingus, da Pingus, somado à degustação na casa em 2015, assim como, aproveitando a cidade de Quintanilla de Onésimo, um Pico Cuadro crianza muito bom. Por fim, os vinhos da Protos, que já tomamos demais, sendo os melhores o Reserva e o Gran Reserva, a despeito de várias safras bebidas do crianza. Importante notar que tudo o que está descrito acima vem de Ribera del Duero. Na Rioja eu aponto o Viña Tondônia Reserva e o Muga Reserva, e não esqueceria uma casa de Sardón de Duero, a Abadia Retuerta e seus vinhos mais do que especiais.

ALion FLor de Pingus

PedrosaPesquera

Fontes: (1) Vinexus, (2) Ribera y Rueda, (3) El Corte Inglés, (4) Weindiele

 

Completa esse arsenal de Tempranillo alguns poucos rosados que apenas refrescaram a alma. Mas fiquemos mesmo com o que mais agradou: note pela descrição que todos estão entre o crianza e o gran reserva, o que representa madeira, carvalho, algo que nessa uva, e sob a bandeira espanhola, agrada demais. Voltando para o início do texto: curioso ou curiosa para a segunda uva? Semana que vem a gente se encontra aqui novamente.