Ontem completei 45 anos de vida. Fiquei com uma sensação de fim do primeiro tempo, e sem intervalo vamos jogar os próximos 45. Se tiver desconto do árbitro, prorrogação e pênaltis eu confesso que não espero, mas também não desejo ser substituído ou expulso. Que venham os 90!

Nesse mundo de bobagens e expectativas ansiosas exacerbadas ontem foi um dia muito especial. Depois de um ano e meio de terapia, começada tardiamente, percebi que valorizar o que temos é infinitamente mais valioso que lamentar o que deixamos de ter. A partir disso curti cada cumprimento, cada voto, cada mensagem e contato pela primeira vez de maneira genuína e pura. Que delícia! Que libertador! E infelizmente: que tardio para algo tão simples. Paciência. Não posso dizer que dotado de tanto bom humor eu seja um cara triste. Pelo contrário, e ontem me percebi ainda mais feliz. E em meio a tanta coisa linda, quatro instantes me conectam totalmente à nossa coluna semanal de vinhos. Quatro garrafas, duas abertas e duas ganhas de presente.

Comecei o dia recebendo uma homenagem mágica dos alunos da Turma 6 do Máster em Liderança e Gestão Pública do CLP. Se não bastasse o simples gesto de envio de uma garrafa de vinho para quem ama a bebida e fala apaixonadamente sobre isso, ganhei algo muito simbólico e expressivo. Trata-se de um Barolo, o rei dos vinhos de acordo com os norte-italianos, ou mesmo o vinho dos reis. Um Collina San Ponzio, Nebbiolo arretado, como diria parte da turma que orgulhosamente representa o Nordeste. Que baita presente! Só não é melhor que as palavras do cartão, mas essas são minhas e não divido… Até quando terei que fazer terapia para me desgarrar desse “egoísmo”?

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No almoço a Ka preparou um risoto de palmito com camarões graaaandes e abrimos um Alvarinho da Miolo, da série Quinta do Seival. Enquanto o tinto denominado Castas Portuguesas é um belo vinho, esse deixou a desejar. Um bom branco, mas pouco condizente com a casta e suas características ibéricas, ou mesmo uruguaias. No Brasil sou mais o Matiz da Hermann, que encontrei num fornecedor essa semana e já encomendei duas garrafas. Assim, a comida superou bastante o vinho, e o sorriso de minha esposa superou a soma de ambos.

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No final da tarde, começo da noite, o interfone tocou e mais uma garrafa me esperava na portaria. Um “A Quo Montepeloso”, toscano intrigante, curioso, cheio de desvendares – blend toscano de cerca de cinco uvas, com a Montepulciano puxando a fila. Genial! Tão desafiador quanto adivinhar quem poderia ter me presenteado, pois a simpática sacolinha veio sem cartão. Eita! Arrisquei a empresa. Água. Então logo recorri a um queridíssimo amigo de Santa Catarina, que vive na Itália e está na França – sofisticação pura. Falei com ele ao longo do dia. Felicidade em alta, mas nunca imaginei que ele me enviasse um presente, sobretudo tão especial e carinhoso, do tamanho das saudades que temos dele desde que foi para a Europa estudar. Da Europa? Pois é. Que carinho! Genial!

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Terminamos a série no jantar com um arroz de pato extremamente intenso, delicioso e harmonizado com um Valduero Reserva Premium que passa seis anos, isso mesmo, mais de meia década, em barricas de carvalho. Ribera del Duero dos grandes, com madeira e Tempranillo na veia. Uma explosão de vinho que o pato levou tranquilo e garboso – lembrei até da música do pato de João Gilberto. E assim foram as comemorações dos 45 anos. Saúde. Para todos nós!

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