A aventura narrada na semana passada por Salamanca e seu arredores ainda teria um capítulo muito especial. Toro é uma região interessante, que conhecemos em 2009 quando passamos rapidamente por suas beiradas e bebemos, na Vega Sicília, o Pintia – um vinho consagrado, caro, que reveríamos em 2013 na casa de um querido amigo que vive nas montanhas do Priorato.

Pintia

Fonte: Hook & Ford

Dessa vez, fui efetivamente a Toro, cidade pequenina, cercada por belas paisagens e simpática que empresta nome a uma região de origem controlada. Um casal de amigos me convidou para fazer parte de uma visita a uma vinícola dentro da cidade. Quando me chamaram, logo me veio à mente ter tomado três vinhos dessa região: o já citado Pintia, da genial Vega Sicília que estava muito equilibrado; um belíssimo Dehesa del Gago, que ganhei de aniversário de uma tia que conhece muito e está sempre bem assessorada; e um frágil Strabon Plata, comprado numa promoção. Agora seria a oportunidade de ir à cidade, e nesse caso conduzido por um espanhol que nasceu em Vigo, viveu em Londres e agora mora em Salamanca – um amigo do casal de amigos. Ao todo são quase 80 quilômetros até a cidade, e quando avistamos a belíssima igreja de Toro da estrada já estamos cercados de vinhedos.

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Fonte: Uvinum

A visita foi marcada para às 19h00 da sexta-feira, numa casa pequena quase no centro da cidade. Lá eles se orgulham de comprar a uva de produtores cuidadosamente selecionados e produzirem ali mesmo, no subsolo. A vinícola é nova e cresce de forma equilibrada. Seus donos são cunhados, e nosso principal anfitrião se alonga demais nas explicações, por vezes se mostrando um pouco ansioso e confuso. Ainda assim, oferece reflexões importantes sobre todo o processo, destacando que Toro busca se reerguer de uma fama negativa adquirida nas últimas décadas por falta de rigor, ausência de controle e busca por rentabilidade em troca de parte da sua potencial qualidade.

Frente da casa

Sua produção, afirma, faz parte desse novo compromisso. Nas instalações percebemos barricas novas de carvalho francês e americano feitas em toneleria espanhola. As instalações subterrâneas são parte de uma tradição local composta por quilômetros de túneis, e a temperatura permanentemente na faixa dos 16 graus somada àquele tradicional cheiro de vinícola “abrem o apetite”. Em alguns minutos estamos diante de uma mesa com taças, fatias de pão, fatias de queijo e embutidos num simpático quintal.

barricas

O vinho da Valdigal é correto, seu tinto feito de Tempranillo (chamada localment de Tinta de Toro) não me agrada tanto, mas seu branco bem diferente e feito de Malvasia é desafiador. O grau de detalhamento das explicações compensa os seis euros do passeio, e conhecer uma casa nova é sempre uma experiência interessante. Não comprei nada, pois estava em minha última noite na Espanha e meu voo para Portugal não permitia despacho de bagagem. Ainda assim, confesso que se tivesse que empacotar algo de Salamanca seria um Rufete 100% sobre o qual falei semana passada. É essa a novidade maior que levo na memória e espero reencontrar em breve. Com relação a Toro, por mais que suas casas mereçam muita atenção, fico com o sentimento – a ser revisitado – que trata-se de uma região que teve a falta de sorte de ser próxima a Ribera del Duero.

Valdigal