Aprendi no site da Vinci que a Tannat teve origem no País Basco, o que representa dizer que não se trata exatamente de uma uva francesa, a despeito das oscilações fronteiriças. O fato é que todos afirmam se tratar de uma casta francesa, da região dos Pirineus – o que pode explicar o debate sobre a localização -, que se desenvolveu tão bem no Uruguai que praticamente tudo o que bebemos dela vem de nosso vizinho. Note que na sentença a palavra “praticamente” cumpre o papel de “quase”. Assim, a região da Campanha, no Rio Grande do Sul, tem produzido belos vinhos (ou apenas a uva) a partir dessa casta, e eu destaco aqui a Guatambu e a Casa Venturini. Da primeira, localizada em Dom Pedrito, me recordo com alegria do rótulo Da Estância. Da segunda, que colhe na Campanha e vinifica em Flores da Cunha, o Reserva. Aquele do rótulo branco do cavalo, uma descoberta que fiz com um amigo numa feira faz cerca de dez anos no pavilhão da Bienal de São Paulo. Nossa! Saímos alucinados daquele evento.

Tannat G tannat V

Pois bem, nos últimos meses tenho procurado um Tannat francês. Como gosto muito dos Malbec feitos em Cahors, e imaginei a origem francesa da uva que destaco hoje, fui atrás. Raras são as casas que a importam no Brasil, e algumas coisas que encontrei ultrapassavam facilmente os R$ 200, algo exagerado demais para uma curiosidade. Mas dia desses foi no Evino que achei uma garrafa por R$ 40 do Baron de Taste. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas obviamente acabei comprando guiado pelo mais absoluto espírito de “aventura e oportunidade”.

Ontem abrimos a garrafa, numa noite relativamente fria que nos pedia algo com corpo, carvalho, potência e capacidade de aquecer. Abri o vinho, coloquei na taça e ao levantá-la para contrastar a cor da bebida com a parede branca iluminada notei excessiva transparência no conteúdo. Exclamei sozinho que devia se tratar de um suco, e levei à boca desconfiado ao extremo. O primeiro gole foi bacana, mas o tanino que caracteriza tão bem os vinhos uruguaios deu parco sinal de vida. Fiquei com a sensação de estar bebendo algo com corpo levemente acima dos mais tranquilos Pinot Noir que provei. Pouco tanino, nada de carvalho, ou no máximo aquele estágio em barricas velhas, um vinho com a cara da França. E vou dizer: gostamos. Tanto que agora quero ir para o famoso tira-teima.

tannat F

Isso porque ao pesquisar mais sobre a vinícola do nosso rótulo notei que ela é uma das gigantes de Bordeaux, a Maison Ginestet, com dezenas de rótulos de ultra qualidade e algumas linhas mais simples. Mas os tradicionais Tannat da França vem mesmo de Madiran, direção à Espanha, cerca de 180 quilômetros da capital mundial do vinho. Assim, próximo desafio é encontrar um Madiran, e correr pro blog pra contar a história.

 

Fontes das imagens: vinícolas brasileiras e Evino.