Em novembro de 2016 estive numa cidade fria, cinza e a despeito de tais características, genial por sua história e relevância acadêmica. Visitei Oxford num evento de formação, e mesmo com tantas coisas importantes em termos profissionais, me chamou a atenção um almoço genial no Pierre Victoire, um bistrô na mais charmosa rua da região central da cidade. Foi espetacular, mas dadas as formalidades, não sei exatamente o que bebi – era um tinto – e tampouco me lembro o que comi.

Em 2018 voltei à cidade. Que alegria! Primeiro porque foi no início do verão, e tivemos a sorte de ver o céu azul todos os dias. Formação de uma semana e ótimas experiências todos os dias, e noites. Bebi muita cerveja, mas não deixei de reservar espaço para o vinho. Alguns chamam a atenção.

Na chegada um brinde de boas vindas, com surpresa agradabilíssima: uma cava. Mas não era qualquer espumante. Tratava-se de um Rene Barbier, um dos principais nomes dos vinhos do Priorato que visitamos em 2012, região mais sofisticada da Catalunha. Estava bem refrescante, apesar de sinceramente eu insistir que os brasileiros são melhores.

cava

Fonte: Vild Med Vin

No primeiro jantar, logo após essa experiência, um salmão com creme de abacate, uma verdura simpática e um bom creme tártaro no belo restaurante Loch Fyne. Pra beber pedi uma taça de Muscadet Sèvre et Maine. Não era barata, pois vinho na Inglaterra é caro. A harmonização estava divina, e o vinho estava bem fresco – como deve ser. Ponto para o bom gosto!

Na segunda-feira nos foram servidos três vinhos em um evento. Abrimos com um espumante, entramos com um branco e jantamos com um tinto. O último eu notei que era um Beaujouais. Bebi o primeiro gole e desisti – realmente não me agrada. Os demais não fiz tanta questão de investir.

Na terça foi a vez de visitarmos o italiano Carluccio’s. Pedi um menu completo, e a entrada com embutidos e a sobremesa sob o formato de tábua de queijos estavam divinos. O risoto de cogumelos mostrou que a intimidade do inglês com arroz é baixa, infelizmente. Pior estava o vinho. Pedi um corretíssimo, e já conhecido da World Wine, Mandrarossa Nero D’Ávola da Sicilia. A despeito do calor o vinho foi servido a temperatura ambiente. Reclamei, e o atendente me deu absoluta razão. Não é a primeira vez que vejo vinho tinto servido como se fosse algo a ser mantido fora da climatização. Não deu certo. Uma pena, pois a entrada e o fechamento teriam gostado ainda mais de minha escolha. Paciência.

mandra

Fonte: vinícola

Na sexta-feira tivemos um coquetel de despedida e lá estavam sendo servidos mais uma cava e um branco a base de sauvignon blanc que pelo rótulo me fazia crer que seria doce. A informação foi confirmada por um amigo. Preferi ficar de fora. Mas o final especial estava guardado para o sábado: já sem a turma completa sai para jantar com duas amigas. Obviamente fiz de tudo para convencê-las de irmos ao Pierre Victoire. E mais uma vez tive uma refeição muito agradável. Um salmão embrulhado com legumes que estava divino e casou-se perfeitamente com um delicado Muscadet Sèvre et Maine – Domaine Ménard-Gaborit. A combinação estava tão elegante que a responsável pelo restaurante elogiou a escolha e disse se tratar da melhor descoberta do cardápio. Fiquei lisonjeado, mas sabia que podia fazer melhor. Para finalizar o evento trocamos a sobremesa pelo tradicional prato de queijos, o mais sábio costume francês. E para harmonizar divinamente pedi um vinho doce de Domaine Baumard, a base de chenin blanc, que a Mistral indica como o principal especialista dessa uva na França. Cada pedaço de queijo e um pequeno gole de vinho uma viagem, e novo elogio da equipe do restaurante. A aventura não ficou barata, mas se por um lado sequer me lembro quanto pagamos, por outro nunca me esquecerei de como fechamos com chave de ouro uma das mais importantes semanas de minha vida profissional.

MSMBaumard

Fontes: Les Grapes e Mistral