A exemplo do ano passado estive em Oxford para acompanhar o módulo internacional de uma pós-graduação que coordeno no Brasil. A experiência pode se repetir vinte vezes, e eu ficarei encantando em todas elas. Trata-se de algo muito especial, sobretudo porque novas descobertas, percepções diferentes e abordagens distintas são capazes de constituir um conjunto de valores e conhecimentos singular. Isso é genial.

Quero fazer aqui um paralelo com o vinho. Numa das noites de nosso curso encontrei alunos bebendo no agradável jardim do hotel. Uma cena deliciosa, à qual me juntei. Notei que existiam duas garrafas sobre a mesa: um vinho chileno e o outro argentino. O primeiro feito com Cabernet e o segundo com Malbec. Nada mais natural para os brasileiros. Algumas razões que levaram a essa escolha: preço, e isso é muito importante. Mas também segurança, pois as pessoas querem que os vinhos lhes façam companhia sem lhes darem trabalho. E aqui o mais simples é: vou no que conheço. Perfeito. E isso é uma proposta.

Mas em um país diferente, cercado de amigos, não poderíamos ousar um pouco mais? Claro que sim, mas somente quando colocamos o vinho no centro do assunto, e certamente esse não era o objetivo do pessoal. Eles queriam interagir, viver, falar de outras coisas e apenas tomar um vinho seguro. Eu não consigo fazer assim. Pensei em dizer que nas próximas podíamos ir a uma loja juntos, e não ao supermercado, e comprar garrafas diferentes sem gastos adicionais expressivos. Mas não era isso. Não estávamos num tour enogastronômico, e minhas vontades pessoais estão longe de representarem o que a maioria deseja.

Diante dessa sensação, tive que “batalhar sozinho”. Em Londres, numa feira de produtos e comidas mais artesanais, fiquei sozinho na pequena barraca de vinhos da Geórgia que nos convidava por meio de uma placa “provar antes de comprar”. A amável senhora que me atendeu carregava no sotaque do leste europeu, e esse é o típico inglês que meu ouvido aceita fácil e compreende bem. Ela me falou de seu vinho e de seu país. O leste europeu é um histórico produtor dessa bebida. A Geórgia se orgulha de 8.000 anos de registros de produção de vinho. Isso mesmo, leia: oito mil. Os chamados pela moda inglesa de “vinhos laranjas” são praticamente filhos do modo antigo de se fazer vinho na região, com ânforas enterradas e colorações puxando para o âmbar. Sabores diferentes do que estamos acostumados e experiências muito legais. Meu primeiro georgiano eu recebi de um clube de vinhos no Brasil faz anos. Feitos com a famosa uva local Saperavi, não me encantou e tampouco deixou saudades.

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Entretanto, o vinho branco da simpática senhora me surpreendeu – Vitlen Wine, uma vinícola pequena e simpática sobre a qual minha anfitriã discorreu. Aqui me encantou o Tsinandale, da região de Kakheti. Um blend de Rkatsiteli e Mtsvane, castas locais, muito seco e agradável. Estava um calor londrino simpático e o refresco foi imediato.

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Para além do branco ela me ofereceu uma rápida e pequenina prova de cinco vinhos, e enfrentei o desafio. Seu Saperavi confirmou minhas percepções anteriores, e os demais tintos, mais caros e sofisticados, não justificaram investir mais de vinte libras numa garrafa – algo que fiz acertadamente em uma promoção de Barolos ao lado dessa feira. Mas voltemos à prova: o branco foi o primeiro e me agradou demais. Tive sensações semelhantes à primeira vez que coloquei um húngaro 100% Furmint na boca. Sentimento de estar tomando algo bem feito e diferente, que foge do que para nós se tornou uma obviedade argentina e chilena a base de Chardonnay, Sauvignon Blanc e outras coisas mais ocidentalizadas…

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