Dia desses fui conferir o que eu havia bebido em matéria de Champagne na vida. Confundido por muitos como sinônimo absoluto de vinho espumante, a lógica aqui é bem mais complexa. Não basta borbulhar, tem que ser feito da forma certa e no lugar certo. Champagne é vinho de origem específica, caro e muito bem produzido. E lá estávamos nós, naquela região, entre junho e julho de 2012. Uma noite mal dormida num pulgueiro em cidade da fronteira da França com a Espanha, uma noite mágica na cidade de Orange, alguns dias fabulosos na Borgonha e, finalmente, a região de Champagne.

O local é lindo, e as paisagens fantásticas. Mas uma energia um pouco estranha predomina. Estamos perto da fronteira entre a França e a Alemanha, num terreno em que as divisões entre países que se estranham se alteraram bastante, em que conflitos ocorreram em série. Não faltam cemitérios espalhados por toda a parte em homenagens a soldados. Mas deixemos isso de lado. É indiscutível que as cidades são lindas. Por exemplo: em Reims uma catedral do século XIII é uma magnífica obra de arte. E quando começamos nossa visita, por coincidência, as portas foram fechadas e a orquestra de Berlim começou a ensaiar o concerto noturno que celebraria os 50 anos da paz na fronteira. Genial.

Coincidência também marcou, nessa mesma viagem, nosso encontro com a largada de uma etapa do Tour de France – a mais tradicional competição de ciclismo do mundo. Uma estrutura impressionante, uma verdadeira febre, uma festa linda que movimenta milhares de apaixonados pelo esporte das magrelas. No dia anterior conseguimos realizar algo pouco comum: visitamos a vinícola que produz aquele que consideramos o mais perfeito Champagne – o Gosset. Simplesmente genial. As tentativas começaram com um e-mail da Ka para a casa. Eles não aceitam visitas turísticas comuns, o segredo é “encantar” para entrar. E depois de algumas mensagens a confirmação. Viva! Com uma ressalva. Eles só poderiam nos atender num dia específico, pois no sábado desejado todas as casas estariam fechadas por conta de uma “tal disputa ciclística”, que nunca pensamos ser a Volta da França. Épernay era a cidade. Em algumas ruas desse pequeno local as casas mais glamorosas do mundo do Champagne se acumulam. Um verdadeiro universo de elegância. A Gosset nos esperava de braços abertos. Uma visita simpática feita com uma família de australianos. A doce colaboradora que nos atendeu era suave nas palavras, fina e extremamente detalhista. Nos levou pelos túneis dos porões, contando o que houve quando os nazistas chegaram à vinícola, mostrando marcas na parede. Falando de saques, de abusos, mas principalmente da história dessa genial propriedade que foi fundada em 1584. Isso mesmo, estamos falando de um vinho do século XVI, do mesmo período em que o Brasil foi descoberto.

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Ao término da caminhada uma belíssima degustação, incluindo a maravilhosa Grand Blanc de Blancs, e as tradicionais comprinhas. Levamos conosco três belos exemplares. Dois deles, o vinho de entrada Excellence e a Grand Rosé, tomamos em Paris. Esse segundo em nosso aniversário de casamento, num instante mágico, dias depois da visita e plenos de tantas experiências em cerca de 20 dias de Europa e seus vinhos mágicos. Foi uma viagem repleta de regiões viníferas: Priorat, Borgonha e Champagne.

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O terceiro vinho tomamos em casa, no ano passado, em nosso aniversário de 10 anos de casados. Simplesmente a Grand Millesime safrada, a famosa Gosset do rótulo verde. Um dos grandes vinhos da casa. Um dos grandes vinhos de nossas vidas. Saúde. E muitos aniversários de casamento pela frente.

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