Para além do prazer e do glamour do mundo dos vinhos é possível realizar alguns eventos bem-humorados e divertidos. Um dos mais tradicionais está associado a provar bebidas de acordo com algum tipo de associação entre as garrafas. Com um casal de amigos temos brincado com a lógica dos “clássicos”.  Alguns, a bem da verdade, extremamente questionáveis, como foi o caso do “clássico de Los Andes” que reuniu um vinho boliviano e um peruano. Rimos de nossa desgraça, de tão ruim que estavam as bebidas que escolhemos. Fomos salvos por um uruguaio branco que utilizamos apenas para a abertura dos trabalhos.

 

Pois ontem foi dia de atividade. E o jogo foi batizado de “clássico ítalo-brasileiro”, composto por três garrafas de uvas pouco conhecidas no Brasil, de origem italiana, utilizadas em vinhos produzidos em nosso país. O resultado foi bem interessante, mas nem todos os vinhos saíram ilesos e carregados de elogios.

 

As uvas escolhidas foram: a branca Garganega e as tintas Barbera e Ancellotta. A primeira costuma ser plantada no Veneto, norte da Itália, e é base para o Soave, um vinho muito agradável. Em minhas anotações encontrei duas garrafas do Prà, que comprei num saldo de verão em São Paulo que me agradou demais. Foi, inclusive, o vinho da Páscoa de alguns anos atrás e casou muito bem com o peixe. Já a Ancellotta costuma ser utilizada em algumas combinações na Itália, e nunca a bebi sozinha vinda daquele país. Mas no Brasil tem sido bem aproveitada no Rio Grande do Sul, e na Salumeria Tarantino bebemos um Larentis Cepas Selecionadas feito exclusivamente dessa casta que nos agradou por sua simpatia e preço. Já a Barbera é velha conhecida. Ao todo consegui localizar seis garrafas a base dessa casta em meus registros. Em uma ocasião tomamos um rosado bem frutado que não agradou tanto, mas faz alguns meses o Eataly fez uma promoção de Briccotondo à base de Barbera que agradou demais. A memória, no entanto, nos leva mesmo para o Piemonte. Por lá, em junho de 2014, bebemos dois belíssimos vinhos feito de Barbera. O primeiro foi um Fratelli Serio & Battista Borgogno muito equilibrado, bebido em Barolo num jantar espetacular. O segundo em Monforte D’Alba, na própria vinícola em que estávamos hospedados, a Ca Brusá. A uva costuma ser plantada em muitas partes da Itália, e por vezes ganha o nome de sua localidade, como a Barbera D’Asti, do Piemonte. Trata-se da terceira casta mais cultivada no país, perdendo apenas para a Sangiovese e Montepulciano.

Barbera

Mas e o clássico? Pois bem. O branco passou bem pelo teste. Tomamos o Leone di Venezia, casa localizada em São Joaquim, Santa Catarina. O vinho estava muito leve, e em alguns instantes sugeriu falta de personalidade. Impressão desfeita, a bebida se comportou bem e agradou a todos. Em seguida, bebemos o Ancellotta, vindo diretamente das Missões, um gaúcho com personalidade da vinícola Fin. O produtor faz vinhos acessíveis, alguns bem simples, mas o Reserva do Produtor comprado no Mercado de Pinheiros, em São Paulo, é premiado e nos encantou por sua capacidade de acompanhar bem os pratos servidos – polenta, massa e queijos. Por fim, de Goiás, o Barbera produzido pela Pireneus. Se o Syrah bebido faz uma semana nos encantou para além da conta, o excesso de doçura e acidez do vinho feito a partir da uva italiana passou longe de agradar. Entre os participantes alguns arriscaram elogios, mas definitivamente não funcionou bem para a nossa noite. Paciência. O clássico ítalo-brasileiro não foi o sucesso absoluto de outras edições do “torneio”, mas certamente divertiu os presentes sem o sofrimento causado pelo evento “de los Andes”.

Fin