Trabalhei na rua Líbero Badaró, esquina do viaduto do Chá, por poucos meses em 2001. Era jovem, e não gostava do Centro da cidade. Nada entendia de vinho e poucas vezes fui à Casa Godinho em busca de algo para comer ou levar. Voltei pro Centro em 2010 para trabalhar na Sete de Abril, e por mais que já gostasse e entendesse algo de vinho, não me recordo de ter feito qualquer relação entre o local de meu trabalho e minha bebida favorita. Saí de lá no segundo semestre de 2011, depois de cerca de um ano e meio.

Agora estou de volta. E desde abril de 2017 criei pela região um sentimento que não me acompanhou nas duas outras passagens. Não sei se é a idade, a responsabilidade do que estou a fazer agora, ou quem sabe as companhias que arrumei para almoços mais contemplativos. O fato é que passei a admirar a região central. Mas ainda faltava alguma coisa.

Criei afeição por alguns restaurantes para as refeições diárias e chego a sentir vontade de comer alguns pratos. No entanto, insisto: faltava algo, e obviamente estou falando de algum refúgio que pudesse roubar um pouco dos minutos de meu almoço ou me conduzir nos raros finais de tarde que não tenho que correr para lecionar à noite. Falo especificamente de uma loja simpática de vinhos ou de um estabelecimento para rápidas conversas e compras de bebidas sobre as quais pudesse falar depois, numa visita futura.

Nos últimos dias, essa história mudou. De uma só vez descobri dois endereços interessantes no coração da capital. Conheço a Mistral, na Bela Vista, mas não se trata de um endereço que consigo chegar a pé de onde estou, bem como sei que em algum instante estive na Terroir Vinhos na rua Aurora, e sequer tenho conhecimento se a loja ainda existe – acho que não mais. Queria algo perto do Viaduto Jacareí, e numa mesma semana tive duas boas surpresas.

Almoço semanalmente na Galeria Metrópole, point que está se tornando clássico de uma série de tribos da cidade que lá se encontram para baladas noturnas. Mas nunca imaginei que no último andar das estreitas escadas rolantes fosse encontrar a Vinho e Prosa. Uma loja com pouco menos de dois meses que serve a bebida e algumas comidinhas rápidas. O que mais chama a atenção é a carta de opções, que envolve vinhos de nacionalidades menos comuns entre nós, como a Grécia, a Bulgária e a Eslovênia. O item mais caro é um vinho laranja búlgaro, de Sauvignon Blanc, que sai por R$ 139, ou seja, trata-se de um local com boa variedade e preços bem acessíveis.

IMG_20180202_162912684

Minha primeira experiência se deu numa tarde de sexta-feira. Desinsetização no escritório a partir das 15h00 e aula em Pinheiros somente às 19h30. O percurso, de metrô, é rápido. Assim, resolvi curtir o local. Na chegada uma mesa ocupada por um trio alegre e a dona, Daniela, atendendo em ritmo tranquilo, atento e extremamente simpático. Pedi uma taça de vinho, e me foi servida uma farta porção de uma bebida simples, honesta e acessível da portuguesa Ermelinda Freitas retirada de uma bag in box. Estava OK, mas por R$ 8,00 não me recordo de encontrar algo assim tão correto em São Paulo. Contemplei e gostei tanto do ambiente que devo ter levado mais de uma hora para beber. Na saída resolvi levar algo para casa, e depois de receber a atenção extremamente simpática de Rubens, o outro dono da loja, escolhi um Laurentis. Trata-se de vinho brasileiro que na sua linha “Cepas Selecionadas” guarda ótimas surpresas a bons preços. Fiquei com um 100% Ancellotta por R$ 54, que eu já havia achado muito bom quando paguei mais de R$ 60 na saudosa Salumeria Tarantino.

Larentis

Fonte: vinícola

Dias depois estive na Adega Central, na Sete de Abril, a mesma rua em que trabalhei faz quase uma década atrás. Já no seu formato de calçadão, não imaginei que por lá encontraria uma loja de vinhos tão completa com cinco anos de história. Localizada no fundo do corredor de um prédio comercial, a casa é discreta e bem interessante para quem quer fugir do agito do centro e se entreter entre as garrafas. Aqui os preços já variam mais, com vinhos de menos de R$ 50, mas também com bebidas que na internet são anunciadas a quase R$ 3 mil, como o espanhol Marques de Griñon AAA 2008, que na nação de origem é vendido a 135 euros.

adega_central_6_12

Fonte: Diário do Turismo

Nivaldo nos recebe com atenção depois daquela tradicional campainha detectora de presença com uma boa conversa. Apresenta a loja que nas fotos do ambiente virtual parecia maior, mas não deixa de ser simpática e correta no que apresenta. A variedade é razoável, e os preços oscilam de acordo com o que parece comum no mercado. Comprei um Santa Augusta brut rosê para presentear, vinho muito bem feito de Santa Catarina, e não resisti a um Il Sorone, do sul da Itália, blend de uvas simpáticas que me agradam e foi adquirido a R$ 66. Soube que ali, às sextas-feiras, ocorrerem degustações, e ao cliente é permitida uma compra para consumo imediato nas poucas mesas posicionadas na entrada. Boas opções, sobretudo para conversas agradáveis, trocas de percepções e um pouco de refresco para a mente. Saúde!

Il Sorone

Fonte: Vino Fino (.co.nz)