Os biênios 2012-2013 e 2015-2016 reafirmaram nosso gosto pelos vinhos espanhóis. Foi o país de onde mais abrimos garrafas de acordo com nossos registros, com 16,2% de tudo de 2011 até agosto de 2019. Isso, no entanto, tem diminuído de intensidade. Em 2017, por exemplo, o país sequer figurou no TOP 5 das nações, e em 2018 ficou apenas em quinto lugar.

Essa redução não está associada somente à Espanha, mas principalmente a um deslocamento de uvas. Os anos de 2011, 2013 e 2015 tiveram a Tempranillo, extremamente amadeirada ou jovem e vibrante, a depender do vinho, no topo de nossas preferências. Mas recentemente o que vimos foi que essa casta foi mais bebida em seus sinônimos lusitanos – Tinta Roriz ou Aragonês. Além disso, a redução cedeu espaço a outro exemplar espanhol que tem se mostrado mais acessível, a despeito do menor glamour.

A Monastrell se tornou opção interessante e tem nos trazido algumas surpresas agradáveis. Longe dos mais de 140 vinhos onde a Tempranillo se reinou absoluta ou predominou nos últimos dez anos, parte das 19 garrafas de Monastrell se mostraram desafiadoras, sendo que nos últimos quatro anos bebemos quinze delas.

Pesquisando um pouco mais percebemos que a espanhola Monastrell atende pelo nome de Mourvedre na França, e é bastante cultivada na parte mais mediterrânea do país. Por lá aparece em peças consagradas como os idolatrados Châteauneuf-du-Pape, sempre em companhia de outras castas. Mas em minhas anotações não estou tratando especificamente da França, pois raros são os vinhos desse país que consumi ultimamente que tinha essa variedade como a principal.

Assim, importante dizer algo especificamente sobre a Monastrell: trata-se de uva que encontramos vinhos razoáveis em termos econômicos, a despeito de obviamente ser possível ver coisas mais caras. Muitos deles ficam facilmente abaixo dos R$ 70 em boas lojas. A combinação dessa casta com outras uvas é comum na Espanha, e com a Syrah tem se tornado comum em mercados e, sobretudo, lojas virtuais. No Empório São Paulo, o Marionette foi o mais gostoso, e completa o quarteto, pela Wine, o Calaña e o Barahonda, e pela Evino o Estratos. O Calaña é de uma casa muito correta, e até em lista semestral de meus vinhos de menos de R$ 55 entrou faz poucos anos.

MArionetteCalaña

Fonte: EW Wines e Wine

O nível alcoólico desses vinhos costuma ultrapassar 14% e por vezes são um pouco mais doces que a média graças à lógica de uma colheita normalmente um pouco mais tardia. Para quem curte bebidas mais intensas e com açúcar mais presente pode comprar sem dúvida. As regiões mais importantes e melhores são Jumilla, Yecla e Alicante, onde 75% das uvas são dessa variedade. Sincera e honestamente: a primeira dessas três opções me agrada mais.

Por fim, dia desses bebemos dois exemplares 100% da uva comprados na Grand Cru. O Ribera del Segura não foi tão bem (R$ 55), mas o Tarima, quatorze reais mais caro, estava muito correto e me inspirou a escrever esse texto. Saúde!

Vinho-Tarima-Monastrell-2

Fonte: Brait