Coloquei meus pés na França pela primeira vez em 2010. Uma viagem profissional pela Alemanha com a Fundação Konrad Adenauer e um jantar no país vizinho. Um simpático brinde com uma taça de Cremant da Borgonha, e assim bebi meu primeiro “vinho nacional francês”. Em 2012 dormi pela primeira vez nesse belíssimo país. Eu e a Ka ficamos em uma zona degradada de Perpignan para levantarmos um carro alugado na manhã seguinte. Tanta dor de cabeça que nem compensa contar. O bom é que no final deu tudo mais do que certo. Naquela noite bebemos um Gobe, belíssimo vinho espanhol de Montsant, comprado em simpática loja em Falcet.

gobe

Fonte: Decantalo

Assim, apenas na noite seguinte, depois de chegarmos a um hotel-restaurante fantástico em Orange, em noite relatada aqui, bebemos em solo francês nosso primeiro vinho nacional. Era dia 01 de julho de 2012. Em 2018, nesse mesmo dia, a Ka embarcava para me encontrar em Barcelona na manhã seguinte. Depois de 10 dias viajando resolvi lhe fazer uma surpresa. Do Brasil entrei em contato com a Fontavin, produtora daquele primeiro e inesquecível rosê. Quem me respondeu foi Helene – por sinal, ela teve paciência com minhas diversas mensagens. Colocou sua casa à disposição num inglês perfeito, dizendo que seria um enorme prazer nos receber no dia 10 de julho. Ao longo de toda a viagem, até poucos quilômetros da vinícola que nos fez desviar cerca de 80 quilômetros de nosso roteiro em dia intenso de estrada, mantive a surpresa em segredo – e tenho para mim que a Ka nem desconfiou.

A surpresa foi grande quando ela viu a placa da vinícola na rotatória. Aquele vinho, o jantar, o hotel e a noite de 2012 nos marcaram demais. E lá estávamos nós, com hora marcada para às 17h00. Helene, a proprietária e enóloga não estava, e quem nos recebeu foram Aghata e Pauline. A primeira eu entendi que é técnica em vinificação e “quem faz o vinho”, a segunda estuda enologia. Pauline nos levou pela pequena casa que se orgulha de crescer com equilíbrio e cuidado, ano após ano. É ela quem nos explica muito do seu vinho. Jovem, simpática, repleta de vida, energia e vontade de conhecer e falar mais e mais sobre o que faz e acerca do que conhece.

Fontavin 1

Por mais de uma hora vimos o quanto aquela casa é especial, e parte do que contei sobre o quanto a Fontavin é especial para nós, Helene já havia adiantado à equipe a partir de meus e-mais. A sensação foi ter chegado a um lugar onde as pessoas eram velhas conhecidas e esperavam por nós. Isso não tem preço. Digo a Pauline que me chama a atenção as três mulheres comandando todo o processo. Ela sorri e afirma que por mais que não se considerem uma vinícola feminista, e que tenham colaboradores homens com relevância em toda a produção, se orgulham muito de formarem um trio de mulheres. Diante de uma máquina diz: por vezes não temos força suficiente para elas, mas nossa inteligência as vence com facilidade. Falo brevemente sobre meu trabalho de cientista político, e do quanto me orgulho de pesquisar e louvar a participação feminina na política. Ela sorri, e nos oferta uma foto que guardaremos por muitos anos na parte de fora da casa.

Fontavin 3

A região é abençoada. Os vinhedos espalhados estão numa fronteira que inclui Châteauneuf-du-Pape e parte da Provence. A linha de vinhos da Fontavin, que recebe o selo de vinho biológico, é relativamente grande para seu tamanho, e tudo o que provamos estava muito bem feito. Um bom branco, o mesmo rosê divino de anos atrás com novo rótulo e envazado em garrafa borgonhesa (a mais gordinha), um Muscat doce que estava fantástico e três tintos muito bons. Diante de tamanha gentileza e atenção, e encantados com o que provamos foi irresistível não investir em uma caixa de vinhos. Dois rosados (o primeiro já foi e estava muito especial), três tintos, incluindo um Châteauneuf, e o branco de sobremesa que posso ver na minha frente sendo servido com uma bela pera com queijos azuis. Que visita especial. Que casa bacana!

Fontavin 2

(no quadro acima das prateleiras, Helene)