Desde criança Natal é em Natal, ou pelo menos esse era o meu destino predileto para passar as festas. Minha mãe é filha de potiguar, a família é grande e o carinho imenso. Na casa de um tio dela a diversão com os primos era garantida. Foi assim em 1977, 1985, 1987, 1991, 1995 e 2003 – anos em que estive na cidade. Menos do que eu gostaria, mas o suficiente pra carregar as melhores recordações. Foi dessas viagens que tirei a proximidade com uma prima de terceiro grau que resultaria em: casamento. Pois é, eu e a Ka somos primos distantes. Ou melhor: bem mais próximos que a imensa maioria dos primos do mundo…

A partir de nosso casamento o Natal passou, efetivamente, a ser em Natal. Ainda mais porque o aniversário do meu sogro – primo legítimo de minha mãe – é dia 25 de dezembro. E aí ficou perfeito: duas festas numa viagem só. E desde 2004 tem sido assim, com no máximo três exceções marcadas por questões econômicas ou por raras opções de algo mais reservado em outras terras.

Diante de tais características, como de costume, fui procurar saber o que tomamos nessas viagens a Natal. Entre 2010 e 2011, quando comecei a registrar nossas aventuras no mundo dos vinhos, nada. Se bem me recordo ficamos à base de cerveja, num calor intenso. Mas a partir de 2012 passamos a beber bons vinhos, sobretudo brancos. O primeiro trio é composto por experiências bem distintas. Um Escorihuela Gascón 100% viognier que nos encantou por muito tempo, mas findou ficando caro no Brasil. Essa garrafa compramos na Grand Cru em Natal, mas como o vinho passa por carvalho e é mais encorpado, mostrou-se enjoativo no calor local. Destaque assim para dois outros rótulos comprados na mesma loja, bem refrescantes: um vinho de Rueda chamado Verderol, feito com 100% de verdejo e; um italiano a base de Pinot Grigio chamado Corte Giara. Duas pedidas acessíveis à época e bem refrescantes, como a cidade exige.

corte-giara verderol

 

Em 2013 ficamos em São Paulo, na casa de gente querida demais que entende muito de vinho. Mas vou passar essa descrição, pois o intuito é pensar no Natal em Natal. Já em 2014 a coisa foi bem mais simples, mas não ficou devendo nada à possibilidade de um brinde correto em família: um espumante brasileiro do Club des Sommeliers brut, comprado no Extra por preço muito acessível. Estava bem sequinho, e gelado cumpriu sua função de agradar grandes volumes de pessoas sem gastos excessivos.

extra

 

E finalmente chegamos a 2015, quando experimentamos outros três rótulos. O primeiro um Luigi Bosca, tinto da Argentina à base de pinot noir, que não costuma me agradar. Um rosê do Rio Grande do Sul, Virtus de Monte Pascoa, que mais parecia chiclete, de tão perfumado. Muito ruim. E por fim um Tributo brut, mais um bom espumante nacional a preços convidativos.

tributobrut

 

Diante dessa seleção mais simples de vinhos posso garantir, com a mais absoluta certeza, que acertamos de verdade em 2013 e com os espumantes, provando que respeitar o clima local e preservar o bolso é possível, e proporciona momentos muito especiais. Assim, os vinhos das imagens estavam ótimos, restando saber o que cozinhar para tais bebidas. Certamente alguns exageros gastronômicos de final de ano em nada combinam, no Brasil, com as temperaturas da época. Mas quebrar tradição em noite de Natal não harmoniza com o objetivo maior: confraternizar. Feliz Natal!