A vinícola brasileira Miolo tem uma linha de vinhos chamada Single Vineyard, descrita como “o melhor extrato do típico terroir”. Claro que aqui podemos questionar o que exatamente é típico quando estamos tratando de quatro rótulos feitos exclusivamente com uma determinada casta – três tintas e uma branca -, todas elas europeias. Mas o sentido aqui talvez seja dado ao fato de nos rótulos estarem descritas parcelas específicas de solos localizadas em diferentes locais do Brasil onde a casa produz. Perfeito, então vamos em frente com mais um trecho da descrição feita no site que explica exatamente essa percepção: “O Single Vineyard é um conceito especial no Brasil. É um vinho de um único vinhedo. Resultado do intenso e criterioso trabalho de viticultura de precisão, mapeando solos em busca da melhor tipicidade e a máxima expressão do terroir em cada rótulo”.

Nos últimos meses provamos os três tintos: o Pinot Noir, o Touriga Nacional e o Shiraz, o primeiro em fevereiro, o segundo em março e o último em abril. O branco, feito a partir de uma especificidade da Riesling, não conhecemos e temos curiosidade. Vamos agora às nossas percepções, que podem ajudar aos admirados por uma razão simples: aqui temos vinhos considerados especiais, apenas um degrau acima dos preços considerados baratos. Os valores cobrados não podem passar de R$ 90, se for assim, está ótimo. Em São Paulo eles serão facilmente encontrados porque temos uma loja-bar-restaurante da Miolo nos Jardins, e no Rio Grande do Sul e na Bahia também não haverá dificuldade dada a origem do trio. O estado nordestino justifica a aparição porque o terroir do Shiraz está no Vale do São Francisco. Já os demais vêm da Campanha Meridional, bem ao sul do Rio Grande lá na fronteira com o Uruguai. Por fim: a Miolo tem boa loja on-line.

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Fonte da imagem: Vinícola Miolo

Pinot Noir – a nossa uva queridinha, a mais consumida em 2019 nos trouxe aqui a primeira grande decepção. Vinho comum, nada afetado pela exagerada doçura de alguns chilenos, mas sem qualquer personalidade. Aportou pouco, não se mostrou gostoso e nos fez sentir saudades, por exemplo, do patagônico Aniello 006 Riverside da Argentina, que mesmo custando quase o dobro do preço – R$ 100 – já foi encontrado em excepcionais promoções na World Wine por menos de R$ 60. O Miolo nós compramos em Porto Alegre, na Casa do Vinho, e pagamos R$ 55. Vale? Sinceramente eu arriscaria conhecer outras coisas.

Touriga Nacional – casta portuguesa com a qual a Miolo tem trabalhado bem demais. Dia desses um Quinta do Seival – Castas Portuguesas que comprei em Balneário Camboriú-SC trouxe sentimentos bem agradáveis. Assim, não resisti a esse exemplar com fortes recomendações do proprietário do Deli da Villa e paguei por ele salgados R$ 82 – na loja on-line da vinícola está por menos de R$ 70. O resultado, no entanto, compensou. A dica valeu: o vinho estava bem gostoso e superou nossas expectativas. Aqui a vinícola efetivamente acertou em cheio, sendo interessante prestarmos bastante atenção ao que eles têm feito com essa casta.

Shiraz – aqui temos o nosso representante do Nordeste que ganhei carinhosamente de presente de uma aluna querida da pós-graduação que coordeno no Centro de Liderança Pública. Por sinal, “passo mal” ali: uma baiana orgulhosa dos bons vinhos de sua terra e um gaúcho de Bento Gonçalves na mesma turma. Como resistir? Pois bem: aqui em casa fomos incorretos com o Shiraz. Ele deveria ter sido bebido daqui uns dois anos, pois estava bem jovem na garrafa. Assim, o primeiro contato foi negativo, pois estava muito alcoólico e sem grande personalidade. Cheguei a pensar que o Touriga era o milagre e esse terceiro empataria com o Pinot Noir. Nada disso. Aqui percebi que presente dado por gente que gosta de vinho tende a dar muito certo. E deu. Uma hora depois de aberto e nosso Shiraz estava trazendo aquela pimentinha típica dessa casta, sendo que nossa comida aqui ajudou ainda mais: uma lasanha de beringela com cogumelos bem temperada com bastante pimenta do reino, parmesão, molho de tomate, ervas finas, carinho e amor. Pronto! O Shiraz se mostrou um vinho bem gostoso.

Resultado do teste: o Pinot é dispensável, e isso nada tem a ver com o caráter mais delicado da uva, pois temos a bebido demais e gostamos disso. Já os outros dois tintos estão absolutamente aprovados. Muito gostosos. Saúde!