Sempre que me deparo com uma lista de vinhos me concentro em recordar o que conheço dali, buscando verificar se concordo com a classificação ou não. É claro que normalmente trata-se de algo organizado por um especialista, e quem sou eu pra elaborar grandes reflexões e discordar de tais construções? Bom: gosto é gosto, e sobretudo, curiosidade é curiosidade.

Essa semana o jornal O Estado de S. Paulo, no blog da Belle, do simpático caderno Paladar on-line, publicou um curioso conjunto de quatro listas de vinhos brasileiros, elaboradas a partir de notas do Vivino – e nesse caso os resultados são apenas médias do que milhões de usuários acham. Curioso que sou, fui ver nesse universo o que conheço e qual minha opinião. Os tintos predominam, e entre eles temos mais gaúchos que catarinenses – o que já não bate com meu gosto. Mas vamos lá.

As categorias das listas são: brasileiro corte bordalês, brasileiro cabernet sauvignon, brasileiro merlot e espumante brasileiro. Perceba que a primeira lista finda sendo um assemblage das duas listas de monocastas seguintes. Cabernet e merlot formam o corte bordalês numa “licença poética” que para os mais ortodoxos exigiria a presença da petit verdot. Existe ainda a discussão acerca da cabernet franc e da cabernet sauvignon. Devem ser pensadas separadamente? Insito: não entendo tanto assim, vamos nos divertir!

Na primeira lista estão cinco catarinenses do chamado corte bordalês. Definitivamente trata-se do que as serras dos Barriga-verde produzem de melhor: a mistura entre essas uvas, com destaque para Cabernet e Merlot. Na lista, quatro rótulos são Francioni e um Bassetti. Conheço as duas casas e posso garantir que fazem bons vinhos. O mais bem classificado é o Villa Francioni tinto 2011 (3º lugar) o mais barato representante da linha VF dessa casa que se alinha na sequência até o sexta lugar com exemplares que superam os R$ 100. Em décimo aparece o Bassetti, um ótimo vinho. O rótulo classificado é o Montepioli, cuja caixa na vinícola está em excelente promoção: R$ 415, ou R$ 69 a garrafa – um belo preço que pode ser entregue por frete acessível. A casa é muito simpática e seu Primiero, o vinho que conhecemos e é mais caro (R$ 145 a garrafa), infelizmente “queimamos” num almoço genial que tinha vinho orgânico do priorato, GreyWacke Wild, Clos Mouches e o israelense Petit Castel. O brasileiro foi bem, mas não se destacou como merecia pelo carinho que nos foi ofertado na visita que fizemos em 2015.

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Na lista seguinte, de cabernet sauvignon, chama a atenção a quantidade de casas maiores como a Aurora e a Valduga, mas também dois gaúchos que tenho curiosidade para conhecer: o Rota 324 (2º colocado) e o Angheben (8º). O 324 é da Casa Abel, que tem mais um exemplar na lista, em sexto. O outro é de uma casa que tem se destacado por fazer vinhos com uvas pouco comuns aos produtores brasileiros como as italianas terodelgo e barbera, e a portuguesa touriga nacional. Tais curiosidades custam pouco mais de R$ 100.  Os catarinenses, meus favoritos, aparecem apenas em décimo lugar, um Quinta da Neve monovarietal, mas confesso que essa casa vai melhor com assemblages que mereciam estar na lista anterior.

Na terceira relação os merlot, mas confesso que pouco conheço de monovarietais dessa casta no Brasil, em lista dominada pelos gaúchos.

Por fim, a relação do que fazemos de melhor: os espumantes. E aqui a lista é extremamente feliz e merecidamente gaúcha. Quatro rótulos, incluindo o vencedor, são da Cave Geisse, produtora de vinhos extremamente bem feitos no Rio Grande do Sul. Faz alguns dias, na Cava Tappi, tive a oportunidade de conversar rapidamente com um dos proprietários, lembrando a visita que fiz em 2007 e elogiando os resultados do que produzem. Dois outros espumanetes que merecem atenção pela ótima dedicação da casa produtora são da Hermann, que além de vinhos a base de cortes portugueses – o alvarinho branco e o touriga tinto são ótimos – faz espumantes muito bons. A Valduga inscreve três rótulos na relação, dentre eles o 130, um belíssimo vinho de qualidade superior que conhecemos.

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A lista completa e o bom texto da Belle podem ser conferidos aqui. Divirta-se! E aposte: os brasileiros podem surpreender muito positivamente.