No começo de nosso casamento a Ka se desligou de um restaurante e acertou parte de sua rescisão em vinhos. Na época achei estranho, mas hoje confesso que foi o máximo. A condição não foi acertada apenas no emprego, mas também no casamento. Se eu não comprasse uma adega a ideia podia sofrer danos, isso porque os vinhos trazidos eram bons e precisavam de um lugar adequado. Perfeito. Numa boa promoção da Fastshop comprei um refrigerador disfarçado de guardador de vinho da GE para cerca de 30 garrafas. Um bom equipamento que está conosco faz mais de 10 anos.

ADEGA

Fonte: Reparatel (essa NÃO foi a empresa chamada)

Em julho desse ano voltei pra casa e fui avisado que a adega estava desligada. Nossa companheira de tantas aventuras havia descansado. Era inverno e por isso não me preocupei tanto com os vinhos que a lotavam. Escolhi cuidadosamente uma assistência que se dizia autorizada e chamei um técnico que me cobrou R$ 20 pela visita com orçamento. O recebi numa manhã. Um cidadão que mal passava na porta de tão forte, corrente prateada grossa no pescoço, orelha maltratada pelas artes marciais e uma pequena maleta de ferramentas nas mãos. Expliquei rapidamente o ocorrido, ele arrastou a adega, mediu a voltagem da tomada e crucificou sem dó em menos de 30 segundos: “é placa. Sua adega queimou. O valor pra reparo é R$ 890 e acho que vale comprar uma nova”. Assim, em poucos minutos. Antes de autorizar ou descartar, resolvi lembrar que aquela adega funciona com compressor, e não com placa. Ele riu e disse que existe uma placa que queimou. Aproveitou minha curiosidade e perguntou o que eu faria com ela. Disse que antes precisava de uma nova, mas que provavelmente a descartaria. Foi quando caridoso ele afirmou: “se quiser eu passo aqui e a retiro de graça para o senhor. É a garantia de que ela será descartada da forma ambientalmente correta”.

Aquela frase foi o suficiente para eu pagar os R$ 20 da visita e agradecer. Senti que algo estava errado. No dia seguinte a assistência ligou dizendo que faria um desconto de R$ 200 no reparo – fiquei ainda mais desconfiado, agradeci e desliguei. Tirei a adega do lugar e resolvi limpar com muito carinho o motor e tudo o que havia atrás dela. Estava realmente imunda. À tarde desci e conversei com nosso habilidoso zelador. Disse que a adega estava queimada e que se ele arrumasse venderíamos o produto e dividiríamos o valor. Ele se sentiu motivado, levou a adega limpa para a garagem e a ligou na tomada. Funcionou.

O interfone tocou e era ele com a boa notícia. “Nem tenho como te cobrar, pois foi só ligar na tomada. Acho que era a sujeira”. Eu também acho, e o fato é que depois de uma semana ligada na garagem, resfriando perfeitamente, ela voltou pra casa e está faz dois meses operando normalmente. A essa altura eu já havia comprado outra, mas ter dois equipamentos desses não é problema nenhum pra quem tinha tanto vinho bom guardado em caixas num armário. O roubo da adega, e não consigo encontrar outra palavra, quase se concretizou. Cuidado.