Não sei se esse é o melhor modo de classificar atrações turísticas, mas no mundo das vinícolas, a exemplos de tantas outras atmosferas, existem passeios bem turísticos e visitas mais técnicas e que atraem menos o interesse, principalmente, de leigos viajantes que desejam apenas colocar uma atração a mais em seus roteiros de viagem. Tal divisão pode ser feita em uma série de locais, e o tamanho da casa que recebe é uma variável que pode explicar parte expressiva dessa diferença. Uma casa grande não necessariamente tem uma mega estrutura para receber grandes grupos turísticos, mas é nesse tipo de empreendimento que ocorrem as “grandes visitas” guiadas e mais atraentes do ponto de vista comercial. Uma pequena casa dificilmente poderá receber com superproduções. Nas Serras Gaúchas existe diferença imensa entre a pequena Geisse e a imensa Salton. A primeira te recebe quase “artesanalmente”, enquanto na segunda até estacionamento para ônibus existe. Ainda no sul, ao menos até 2007, a imensa Chandon não era muito de grandes visitas. Entendeu?

Isso se repete pelo mundo. No Chile, por exemplo, pertinho de Santiago, uma das grandes casas da Concha y Toro recebe turistas às centenas e faz uma visita bem comercial. Para apresentar o Casillero del Diablo, por exemplo, faz mistério, muda a iluminação, oferece jogo de sombras etc. Em São Joaquim, Santa Catarina, a Villa Francioni tem visita guiada para grandes grupos, enquanto na Villaggio Bassetti a operação é menor e não é raro o dono da casa aparecer para apresentar seu negócio em uma conversa muito agradável.

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Fonte: Vinhosite / Vinhoblog

 

Na Europa não é diferente. No Douro as casas de vinho do Porto tem filas e visitas com tempo marcado em vários episódios ao longo do dia. Grande parte fica num calçadão às margens do rio mesclando restaurantes, bares, lojas e diversas atrações. Mas basta navegar pelo Douro e as casas vão ficando mais intimistas, e difíceis de serem visitadas. No Alentejo, conhecer a Herdade do Esporão é algo grandioso em número de pessoas, mas a Herdade de Coelheiros sequer recebe turistas em modelos empacotados. Por lá a coisa foi diretamente com o proprietário, em um evento pra lá de especial que um dia descreverei aqui.

Na França, mais especificamente na região de Saint-Émilion, Bordeaux, é possível visitar casas de uma forma muito bem organizada pelo escritório central de turismo. Para evitar que viajantes fiquem tocando a campainha em casas fechadas e pouco simpáticas a esse tipo de prática, duas vinícolas por dia oferecem visitas – pagas ou não – e o turista sabe exatamente onde ir e a que horas. Por lá, pudemos entrar numa casa bem ampla e mais estruturada e em outra bem pequena, onde os ótimos vinhos estavam sendo engarrafados ao sol, no meio da rua. Por fim, na Espanha, a região de Rioja foi onde vimos as maiores diferenças entre casas mais amplas e aquelas mais acanhadas nas suas dimensões.

Diante de tantos exemplos, e seria possível descrever mais uma boa quantidade de situações, algumas dicas são fundamentais. A primeira: se você conhece um bom importador e tem boa relação com ele peça para intermediar alguma visita. Nesses casos a recepção costuma ser muito especial. O detalhe aqui: você estará, normalmente, em contato com gente que deixa de trabalhar para lhe atender – se bem que isso também é trabalho – e requer absoluta pontualidade e respeito. A segunda: verifique como funcionam as opções de visita na casa que deseja conhecer. Mandar e-mail, entrar em contato, marcar hora, escolher o melhor passeio. No Uruguai, por exemplo, a Garzón nos recebeu apenas para uma rápida visita guiada em grupo, enquanto na Bouza marcamos um maravilhoso almoço que valeu muito. Terceiro: nem todas as casas visitadas vendem seus produtos. Quando o passeio é mais turístico, excelentes lojas esperam os visitantes. Mas na Vega Sicilia, por exemplo, que sequer está aberta para o tour, não havia nada para se comprar. Quarto: quando o dono recebe o visitante é comum que num dado instante destinado às compras ele saia de cena e chame um funcionário para efetuar a parte comercial. Trata-se de uma convenção e isso deve ser respeitado. Quinto: muitas regiões específicas têm sites com os roteiros, as casas e nas estradas existem placas sinalizando os produtores. Bacana saber quem recebe fácil ou não, e conhecer o conselho regulador pode ofertar dicas. Por fim, os roteiros são sempre muito parecidos: explicações sobre a história da casa, tanques de inox e noções de vinificação, salas climatizadas e/ou no subsolo com barricas, provas pequenas onde não adiante tentar levar vantagem e encher a cara e, por fim, possível compra de vinho. Tudo em algo como quarenta minutos e duas horas. Detalhe: levar criança nesse tipo de balada é chato pra ela e, normalmente, pro resto da galera… Fica a dica!