Num registro dos mais de mil vinhos bebidos nos últimos oito anos, cujos rótulos foram arquivados em cadernos de anotações, tenho que a Espanha responde por cerca de 20% daquilo que consumimos. Sua principal uva – a tempranillo, ull de lebre, tinta del país, tinta de Toro ou mesmo aragonês e tinta roriz em Portugal – também está no topo de nossa lista com quase 12% da casta principal desse milhar de garrafas. Trata-se daquilo que gostamos demais.

Por exemplo: dos 120 vinhos bebidos feitos a partir dessa uva, pouco menos de 100 são espanhóis. E três deles estão absolutamente vivos em minha memória gustativa. Em ordem de consumo estou falando do Pérez Pascuas Gran Reserva 2000 (2015), do Pesquera Reserva Especial 2003 (2016) e do Protos Gran Reserva 2004 (2017). Nota-se que, em comum, além da letra P no começo de seus nomes, da uva, da região e da nacionalidade, foram vinhos consumidos com pelo menos 13 anos de guarda. E estavam sublimes.

PP
Fonte: Vinissimus

O primeiro foi bebido em meu aniversário de 40 anos, um presente magnífico dos donos da casa em visita muito especial. Foi harmonizado com um cordeiro feito pela Ka e se mostrou mais intenso após uma hora no decanter. O segundo, para mim, foi o mais fantástico dos três. Levado por um casal de amigos a um restaurante paulistano em um jantar muito agradável com bela harmonização. O terceiro, servido com mais um inspiradíssimo cordeiro da Ka é o mais frágil dos três, mas ainda assim, depois de duas horas no decanter e artificialmente colocado em temperatura ideal diante de um calor de janeiro – desonesto para ele – mostrou-se muito agradável.

Fonte: Gazeta On Line
Fonte: Gazeta On Line

A principal diferença que noto entre os três está na intensidade da madeira que se percebe nessas bebidas. Reconheço que a moda está passando para muitos entendedores, mas ainda gosto muito de vinhos com forte presença de carvalho, algo que sobra nesses rótulos e na região de Ribeira del Duero, minha predileta. O Pérez Pascuas tem 24 meses de barricas francesas e americanas. O Pesquera estagia 30 meses. E o Protos, casa que reconhecidamente tem reduzido a intensidade do sabor de madeira em suas bebidas, também destina dois anos de amadurecimento em roble – carvalho em espanhol. Diante desse trio, qualquer que seja a escolha o resultado será muito agradável. Mas lembre-se: são vinhos potentes, que devem estar na temperatura ideal, deveriam ser bebidos em dias mais frios, merecem envelhecer em garrafa para serem abertos na hora certa – o Cellar Tracker oferta boas dicas a esse respeito –, e demandam comidas feitas para eles, sendo o cordeiro uma bela pedida. Saúde!

Fonte: Cellar Tracker
Fonte: Cellar Tracker

Um detalhe importante em meus registros: em relação à região deixei de lado aqui uma degustação na Vega Sicilia; um quinteto de Alión e; um Flor de Pingus feitos sob a mesma lógica dos vinhos anteriores e que serão, ou foram, tratados em posts especiais.