Pense numa partida de futebol com dois times escalados de modo historicamente impossível. Mas pense. Olhe alguns dos craques, muitos deles conhecidos pelo mundo todo. Podemos combinar de diferentes formas o elenco abaixo. Certamente diversão não nos faltará. Mas o que eles têm em comum? O que une esse verdadeiro esquadrão? Concordo que seja uma escalação desequilibrada, pois falta zagueiro e atacante, sobrando meias habilidosos. Fica mais parecendo um desses amistosos para a arrecadação de recursos humanitários. Mas de novo: o que eles têm em comum?

 

1 André Manz – goleiro 1 Buffon – goleiro
2 Hernanes – meia 2 Gary Neville – lateral direito
3 Pirlo – meia 3 Mario João – zagueiro
4 David Beckham – meia 4 Figueroa – zagueiro
5 Iniesta – meia 5 Humberto Coelho – zagueiro
6 Sneijder – meia 6 Bobby Charlton  – meia
7 Zamorano – atacante 7 Bryan Robson – meia
8 Ronaldinho Gaúcho – meia 8 Shéu – meia
9 Eusébio – atacante 9 Mario Coluna – meia
10 Messi – meia 10 Maradona – meia
11 Cosme Damião – meia 11 Nick Butt – meia
T Pedro Emanuel T Luxemburgo

 

 

Simples: todos os atletas produzem, vendem, promovem ou são homenageados por fabricantes de vinhos. O jogo seria narrado por Galvão Bueno, que faz vinhos na Itália e no sul do Brasil. E as camisas? Existem quatro diferentes possibilidades: o azul do Cruzeiro, a rubro negro da Gávea ou uma das maiores rivalidades do futebol mundial, entre Real Madrid e Barcelona. Todas aqui possuem ou possuíram etiquetas próprias de vinhos. O clube mineiro tem um clube de vinhos, e dois rótulos à base de merlot. A Lídio Carraro, do Rio Grande do Sul, assina, pelo menos, o “Cinquentenário Brasileirão 1966”. A parceria do Flamengo, por sua vez, ocorreu em 2013 com a catarinense Villagio Grando, que muito nos agrada, e resultou no que parece ser uma série limitada de dois espumantes e um tinto. Já os espanhóis deixam a rivalidade histórica de lado e têm na mesma Bodegas Altanza dois crianzas com seus escudos e nomes. Ambos são da Rioja, portanto: feitos à base de Tempranillo – que combina melhor com Madrid do que com Barcelona. O clube catalão, no entanto, tem vinho argentino em Mendoza, feito pela Estancia Mendoza.

Vinho BarcelonaVinho Real Madrid

Fonte: Bodegas Alianza

Mas vamos voltar à escalação, que poderia “pintar na tela da TV” utilizando as rolhas numeradas de 1 a 11 que a Marcus James, da Aurora, fez para seus vinhos no ano da última Copa do Mundo – por sinal, a Nederbug em 2010 na África do Sul e a Lídio Carraro no Brasil em 2014 fizeram vinhos licenciados FIFA para o evento esportivo.

Rolhas-Vinhos-Marcus-James

Fonte: Embalagem Marca

O primeiro time começa com produtores. André Manz é um ex-goleiro brasileiro que jogou no paulista Taubaté e no português Estoril. Mas foi como professor de aeróbica e fitness que ganhou dinheiro, comprou uma propriedade para montar um complexo esportivo nos arredores de Lisboa e depois de uma longa história desvendou uma uva branca esquecida (Jampal) com a qual fez um premiadíssimo vinho branco e ficou famoso. Hernanes comprou uma vinícola no nobre Piemonte e de lá saem pelo menos três rótulos do Ca’ del Profeta, em alusão ao apelido que o jogador ganhou na TV Globo. Pirlo, veterano da seleção italiana que se notabilizou no Milan e na Juventus, não produz a oeste de Milano, onde está o craque do São Paulo, mas sim a leste, pertinho de Bréscia na Pratum Coller, que se orgulha do craque proprietário que termina a carreira de atleta nos Estados Unidos. Já Iniesta aposta em bodega com seu nome em região pouco badalada da Espanha, La Machuela, entre Valência e Albacete. Os produtos exageram na imagem do craque e um dos seus vinhos, o Minuto 116, faz alusão ao gol que ele marcou e fez da Espanha campeã na prorrogação da final da Copa da África do Sul contra a Holanda. A lista aqui termina com David Beckham e o vinho produzido, mas não comercializado até onde se sabe, na Califórnia.

Minuto 116profeta

Fonte: Vinícola / Cave da Kris

A relação de Ronaldinho Gaúcho, Buffon, Zamorano, Sneijder com o vinho é outra. Todos eles foram homenageados pela cantina de Fabio Cordella na Itália. Messi é o consagrado da Valentín Bianchi, que produz o ‘Leo’ e beneficia a fundação do craque. Maradona, por sua vez, assinou um tinto 2002 da Raíces de Agrelo. Nesse ritmo, o lendário craque português Eusébio foi celebrado por duas diferentes casas, e numa delas a união entre o respeitado enólogo Paulo Laureano e o tradicional Sport Lisboa Benfica, ou Benfica, criou rótulos também para Shéu, Mario Coluna, Mario João e Humberto Coelho – históricos jogadores do time. Por fim, o chileno Elias Figueroa, que jogou no Internacional de Porto Alegre e é considerado o maior jogador da história de seu país, promovia a parceria da Concha y Toro com o Manchester United junto a Bobby Chalton, Bryan Robson, Gary Neville e Nick Butt. Aqui o intuito era relacionar o Casillero del Diablo, um dos vinhos mais comerciais da marca, aos Red Devils, como é conhecido o esquadrão do time inglês.

MancherterVinho Buffon

Fonte: Revista Adega / Vinícola

No banco de reservas, como treinadores, Wanderley Luxemburgo, ex-atleta da lateral esquerda do Flamengo, que investiu em loja virtual. E Pedro Manuel, que atuou em Portugal e treinou o Académica, time de Coimbra, que era dono da Wine O’clock, rede de lojas da bebida.

Diante dessa verdadeira constelação, o que já tomei? Muito pouco. Na verdade participei de uma degustação extremamente informal, simpática e tímida dos vinhos de Galvão Bueno na Vinheria Percussi – ótimo restaurante de São Paulo. Admirei os italianos da Toscana e não achei muita graça no exemplar nacional. Bebi e visitei o óbvio e mediano chileno. E tomei o Dona Fátima, excelente branco de André Manz feito com a rara Jampal. Aqui um fato curioso: meu sogro comprou uma caixa do Dona Fátima e experimentamos em dezembro e março. Ambos, em momentos especiais, mostraram-se divinos com receitas de bacalhau feitas pelo Ka. Recomendadíssimo, assim como um jogo entre essa verdadeira constelação de estrelas.

manz_dona_fatima

Fonte: Via Vini