Ponte de Lima é uma dessas cidades que o viajante precisa passar algumas horas quando estiver bem ao norte de Portugal. Por aqui, Porto e Braga brilham intensamente, e há quem estique até Guimarães e se esforce para ir até Viana do Castelo. Essa última eu não gostei tanto. Para ser sincero: não achei a menor graça. As duas primeiras são grandes e extremamente interessantes, com destaque para o Porto. Guimarães tem um charme que infelizmente demorei pra desvendar, pois passei rapidamente e me perdi por onde não deveria ter ido andar. Foi ali que Portugal começou, a cidade é muito bem conservada em seu casco histórico e vale demais a visita. Mas Ponte de Lima é imperdível, assim como a menos badalada Valença também é. Ao norte daquele país, pra quem gosta de vinho, obviamente as cidades que margeiam o Douro também são essenciais, bem como Monção e Melgaço, grudadas ao Minho na fronteira com a Espanha.

Pois entre os rios Douro e Minho ficam nove sub-regiões de vinhos verdes, com destaque para Monção e Melgaço e seu Alvarinho. E Ponte de Lima foi escolhida para sediar o CIPVV, ou seja: o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde. A cidade é formada por diversas freguesias, curiosamente 39, o mesmo número de município que compõem a Grande São Paulo. A diferença é que por lá a vila-sede tem pouco mais de cinco mil habitantes e o município como um todo pouco mais de 40 mil pessoas. Assim: é tudo muito tranquilo, agradável e com uma história fantástica. No ano de 1.125 já existiam referências à localidade, e a ponte que dá nome à cidade foi por séculos o ponto de cruzamento mais seguro do rio Lima – cruzar esse marco é emocionante, sobretudo com auto-falantes embutidos tocando O Messiah de Handel. O significado do local é tão expressivo que o caminho português de Santiago de Compostela tem em Ponte de Lima uma parada essencial.

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Para além de toda essa riqueza, por lá existe uma espécie de museu, ainda muito simples, que busca organizar a lógica do que seria o Vinho Verde. Isso: voltemos a falar de vinho. Visitei o espaço, que ao contrário dos locais destinados exclusivamente ao Alvarinho em Monção e Melgaço, amplia o escopo e cuida do vinho verde em geral – só as uvas brancas destacadas no site são 19, considerando aqueles nomes portugueses imperdíveis, como Esgana-Cão, Pintosa, Rabigato, Pedernão e Avesso, essa última muito interessante em vinhos monocasta.

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Fonte: vinícola

A entrada é baratinha, a casa é muito bonita, a roupa típica do conselho regulador é linda, o pessoal é muito simpático (característica maior do norte português), as atrações são poucas, e no final é possível degustar um rótulo e comprar tantos outros. Não tive sorte aqui. O vinho oferecido foi um tinto que em nada me agradou a base de Vinhão, e arrisquei comprar um branco, 100% alvarinho, que não me alegrou tanto quantos outros dessa mesma localidade – o Solar de Serrade da foto acima. O que ficou de absolutamente essencial: Ponte de Lima é uma cidade que vale a visita, e o casamento entre um bom almoço e uma tarde de caminhada tranquila por suas ruas medievais alegrará a muita gente – eu trocaria Viana por essa cidade facilmente. Mas algo precisa ser desvendado: o CIPVV não explica lá muito bem o que é um VINHO VERDE e o porquê dessa denominação. A funcionária diz que existe uma necessidade de mudar algumas percepções pejorativas e por isso essa questão não é tão explorada. OK, mas então o que significa Interpretar e Promover algo que se mantém em relativo segredo? Mistérios.

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