Lecionar no “campo de públicas” – nome habitualmente dado aos cursos de Gestão e Administração Pública – pode reservar surpresas muito bacanas no mundo dos vinhos. Três organizações me proporcionaram momentos ou geraram expectativas expressivas nesse universo.

Em Santa Catarina sou parceiro de longa data da Assembleia Legislativa e sua escola do parlamento. Desde 2009 presto serviço por lá em diversas ações de educação política, com destaque para atividades destinadas aos jovens. A maioria absoluta na capital Florianópolis, na sede da escola ou do próprio parlamento. Mas não foram poucas as vezes que viajei pelo interior. Numa delas, o objetivo era descer de avião em Chapecó e rumar quase 200 quilômetros de carro até Dionísio Cerqueira, fronteira com a Argentina. Com a manhã livre antes da palestra, imaginei que poderia pegar um táxi, cruzar a fronteira e comprar alguns vinhos. A famosa ausência de teto no aeroporto brasileiro acabou com meu sonho. E a partir disso, fiquei pensando no dia em que a turma do parlamento me convidaria para alguma atividade em Água Doce – terra da Villaggio Grando – ou para São Joaquim e imediações, cidade de belos vinhos. Nunca aconteceu, mas estive em São Joaquim com a Ka em 2015 e foi uma viagem muito especial. A despeito dessa “frustração”, na imensa maioria das vezes em que estive em Florianópolis fiz questão de passar na Essen, loja que já tratei aqui, para comprar algo produzido no estado.

Pela dupla Fundação Konrad Adenauer e Oficina Municipal tive a oportunidade de conhecer a Alemanha em 2010, num belíssimo giro de administração pública com prefeitos brasileiros de uma região paulista. Foram mais de 10 dias intensos, de diversas palestras, visitas técnicas e atividades especiais. Raramente dou uma aula ou palestra que não lembre algo vivido nesse roteiro que cruzou o país todo e ainda foi parar em Bruxelas, sede do parlamento europeu. Duas atividades se mostraram muito bacanas em matéria de vinhos. No final da tarde de um dia repleto de palestras conhecemos uma vinícola de um simpático alemão, Jurgen Willy, filho de família rica, que nos contou que depois de tantas tentativas profissionais frustradas convenceu aos pais a criarem a Rolf Willy, uma casa que consumiu milhões de euros e, sinceramente, a despeito da receptividade e da excepcional estrutura, não apresentou-nos nada capaz de me encantar. O que bebi lá estava difícil, e as duas garrafas que trouxe decepcionaram demais. Paciência. Mas foi num restaurante-adega que nos levaram na cidade de Baden-Baden que comprei um Riesling bem agradável. Aromas claros de nozes, tomamos com gente que entende muito e gostou demais. Muito bacana a experiência com o Arndt Köbelin.

Rolf Willy riesling-vulkanstein

Fonte: vinícolas – o rótulo do Köbelin é novo, sendo diferente daquele trazido em 2010

Por fim, alguns contatos promissores. Pelo Centro de Liderança Pública, recentemente, lecionei em uma sala com prefeitos, e entre eles o vice incumbente de Pinto Bandeira, cidade de vinhos das Serras Gaúchas. Mas foi na turma seguinte, com o prefeito de Bento Gonçalves, que expus de forma mais clara minha predileção pela bebida e lancei a promessa: “qualquer hora apareço por lá pra tomar um café contigo e conhecer umas vinícolas”. A resposta foi a melhor possível: “pois apareça, conheço umas casas que produzem coisas muito boas, longe demais dos mercados mais tradicionais e rótulos mais conhecidos. As raridades!”. Já imaginou? Estou contando os dias para ter aquela oportunidade especial de viajar para Bento Gonçalves novamente – a última vez foi em 2007. E olha que nessa mesma OSCIP leciono para o prefeito de Petrolina num curso de pós-graduação. Hora dessas vou falar de vinho com ele! Vai que cola…