Esse texto é uma promessa não cumprida de algumas semanas atrás – 12 de julho. A segunda parte de minhas aventuras pela Inglaterra. Ano passado, quando estive em Oxford, relatei aqui uma experiência deliciosa num bistrô muito especial na cidade. Conheci o restaurante em 2016, em minha primeira passagem por lá. Em 2018, voltei ao Pierre Victoire, e agora em 2019 foram duas refeições. O almoço de segunda-feira não teve vinho, mas o de sábado foi diferente.

Passei a manhã com alunos do MLG pelas ruas da cidade conhecendo lojas, tomando cafés e dando risada. Sol forte e muita gente circulando por um lugar pra lá de lindo. Quando chegou a hora do almoço fiquei em dupla com César, um desses alunos que rapidamente se tornam amigos muito especiais. Entramos num bar perto da estação de trem, às margens de um dos rios da cidade e tomamos cerveja. Já eram quase 14h00 quando notamos que estávamos com fome. A pequena caminhada nos levou ao bistrô, que estava quase fechando quando ouvimos que nos aceitariam para o almoço se fizéssemos nossa escolha rapidamente.

Não lembro exatamente o que comi. Sei que bebemos um vinho tinto por uma razão específica. Quando perguntei o que meu parceiro de almoço gostava ele disse que curtia um Malbec. Pronto! Vamos beber um francês para que se conheça a distância existente em relação aos argentinos. Com aquele calor o tinto não podia ser tão intenso e entendo que acertamos. O La Vedette é correto, leve e equilibrado. Não falou mal de ninguém.

La Vedette

Fechado o almoço, tínhamos direito a comer uma sobremesa pelo menu escolhido. Foi quando a coisa ficou séria e ainda mais agradável. Ao invés de doces sugeri a famosa seleção de queijos, o que em francês se chama assiette de fromage. Não existe nada mais civilizado, agradável, elegante e gostoso. Um show, e logo me lembrei do vinho que tinha harmonizado com essa delícia no ano passado. O problema é que ele não estava mais na carta. E resolvemos isso pedindo o Château Septy, um vinho de sobremesa de Monbazillac, o que podemos entender como uma região que tem um sentido semelhante à Sauternes, sem o mesmo glamour. A combinação estava muito bacana e nos divertimos com a “sobremesa”.

CHateau Septy

O resultado foi tão inspirador que descendo pela rua do restaurante entramos na loja de queijos Jericho Cheese Company. Desde 2016 eu namorava aquela vitrine, mas nunca havia botado os pés ali dentro. Chris nos atendeu. Um senhor alto, absurdamente simpático que até fotografia nos permitiu tirar. Brincamos, falamos de queijo, provamos, respiramos um aroma maravilhoso por bons minutos e comprei duas iguarias geniais que comeria à noite na casa de um casal de amigos em Londres. A experiência terminou no café da esquina. Fomos atendidos por uma jovem espanhola que esbanjou simpatia. Bebemos o primeiro, o segundo café, e tivemos a brilhante ideia de perguntar o que eram alguns riscos de tinta na parte interna do balcão ladeados por siglas. Ela nos disse que eram as uvas e a altura que deveria chegar o volume de vinho servido em taça. Achamos curioso e resolvemos fechar a tarde com uma dose de Chablis – o Domaine de la Motte – a um preço bem razoável (£ 5,50) e resultado bacana. Que maneira elegante de finalizar um almoço tão agradável na companhia de um amigo querido. Vinho é isso.

Chablis