Um bom indicador de segurança para uma cidade pode estar associado à tranquilidade com a qual um cidadão anda pelas ruas à noite. Quando vivemos em mais de 10 milhões de pessoas, como em São Paulo, infelizmente é natural que isso varie entre bairros – bom seria se todos nós tivéssemos um mesmo sentimento de paz. Quando eu era pequeno minha mãe trabalhava até tarde, e não era incomum eu caminhar à noite com a moça que cuidava de nossa casa. Quarteirões e mais quarteirões para eu tomar um guaraná e ela tomar uma honesta cervejinha, sobretudo quando estávamos em férias escolares. Isso mudou?

Ano passado, em dois casais, saímos da Morato Coelho, na Vila Madalena, e fomos caminhando até o cruzamento da Rua dos Pinheiros com a Avenida Brasil. Precisamente dois quilômetros, que eu fiz mais apreensivo hoje do que eu fazia em minha infância em trechos muito maiores. Crianças são menos atentas que adultos? Não acho que seja isso, pois eu era um moleque medroso em minhas andanças. Acho que os tempos atuais é que andam mesmo tensos e ameaçadores.

A despeito disso, dia desses fomos ao teatro no Conjunto Nacional. A peça terminou perto das 23h e jantamos num fast food oriental próximo. Na saída apertou a vontade de tomar uma cerveja ou um vinho e resolvemos caminhar pelo que, em tese, deveria ser o seguro bairro dos Jardins. Percorremos alguns quarteirões da Avenida Paulista e a forte descida da Haddock Lobo, procurando algo que nos agradasse. Foi quando nos deparamos com o Vinha Brasil, na altura do número 1.327. Um bar cujo cartão ostenta o título de “embaixador oficial da Miolo”, a famosa vinícola brasileira. Não tinha como não conhecer, e foi o que fizemos.

Via Brasil 3

A casa já estava perto de fechar e nos impressionou pela decoração de bom gosto. Um espaço agradável para beber um vinho com algo que deveria ser mais comum em São Paulo: uma carta de vinhos com dezenas de rótulos exclusivamente da Miolo, para quase todos bolsos, com a possibilidade se beber ali OU levar para casa com diferença acentuada de preço.  Ótimo! É isso! Um lugar que cobra X pelo preço de uma garrafa de vinho a ser bebida no estabelecimento pode cobrar menos de quem leva para casa.

Via Brasil 2

Na carta que recebi conhecia apenas os espumantes: os nordestinos da linha Terranova, que particularmente não me agradam muito; os corretíssimos Cuvée Tradition – brut e brut rosê – e; o orgulho da casa, o Millésime. Sabia da existência de tantos outros, mas nunca havia bebido tintos e brancos da Miolo. Como estava quente, optamos por duas taças: a Ka de um espumante rosado mais simples e eu de um  Pinot Grigio. O vinho dela era doce demais para o meu gosto, e o meu agradava, mas trazia algo que me deixava desconfiado. Quando perguntei o que era para o sommelier, ouvi que era o toque de Riesling. “Mas tem Riesling num vinho 100% reserva Pinot Grigio?” Foi quando ele me disse, de forma extremamente gentil e um tanto constrangido, que havia entendido de forma equivocada o meu pedido.

Via Brasil 4

Desfeito o mal entendido, o atencioso rapaz me trouxe como cortesia a taça do vinho que eu havia pedido. Leonardo foi muito gentil e nos brindou com uma conversa muito agradável sobre os vinhos. Gostei mais da segunda bebida, e por R$ 55 levei uma garrafa para casa. Notei no local que para além dos vinhos existem boas opções de pratos e petiscos, a preços corretos, sobretudo tudo tendo em vista o bairro onde está instalado o estabelecimento. Voltarei ao Vinha Brasil para conhecer mais dos vinhos da Miolo, e que tal iniciativa de existir um restaurante exclusivo de uma vinícola brasileira em São Paulo seja capaz de inspirar mais empresários. Aprovado!

Via Brasil 1