Restaurantes insistem com cartas de vinho em que cada garrafa custa sempre mais de R$ 100. Essa mania pouco democrática cria em torno da bebida uma aura de sofisticação que em nada combina com o que vemos em países como Argentina, Uruguai, Chile e a Europa mediterrânea em geral. Lamentável.

Mas esse meu lamento tem algumas exceções em termos de valor. Vale pagar mais quando a carta se mostra rara, bem elaborada, incomum, desafiadora e bem montada. Foi o que encontramos na Barú Marisqueria, localizada na Rua Augusta, 2.542 em uma galeria extremamente charmosa onde divide espaço com alguns outros restaurantes, cafés e uma simpática loja de vinho que visitarei com mais calma em breve.

Inspirado predominantemente pelo mar, com poucas mesas e clima simples, o local é muito charmoso. Os garçons fazem o estilo jovens descolados e são extremamente simpáticos. O sotaque espanhol da sommelier mostra quem entende de vinhos na casa, e ela é muito gentil e disposta a falar e ouvir. Foi muito bacana pedir e acatar algumas dicas ótimas. Fiquei chateado por ter ido embora sem tirar uma foto e perguntar seu nome.

Em três comemos oito pratos divididos e tomamos duas garrafas de vinho. Ambos brancos, que por razões óbvias dominam o cardápio. E foi olhando para as opções que comecei a perceber como aquilo é carinhosamente construído: fiquei muito curioso com ao menos uns seis ou sete rótulos. E logo de cara parti pra algo bem diferente do convencional. O PX 1, que a sigla logo explica, é feito com a casta Pedro Ximenez e vendido a R$ 108. Quem nos serve desafia: beba esse vinho gelado, como está, mas não deixe de perceber que depois de algum tempo na taça, ao esquentar um pouco, ele abre outros aromas sem perder seu bom caráter. Dito e feito. O vinho não é comum, mas foi bem com os pratos e agradou pela novidade – foi nosso segundo vinho dessa uva.

Petapunto Cosi

Fonte: Metapunto Cosi

O segundo foi uma dica desse mesmo rapaz, aprovada por nossa amiga latina. O Tinaja custava mais caro: R$ 145. Mas valeu cada gole e centavo. Chileno feito com Moscatel de Alejandria nos remeteu à viagem de um casal de amigos que voltou do país encantado com o que pequenos produtores fazem dessa uva. Com eles tomamos um vinho que sequer rótulo tinha, e estava muito bom. Aqui não foi diferente: a bebida passa por ânfora, desce turva da garrafa e no primeiro gole temos a impressão de estar tomando uma cerveja daquelas BEM diferentes. A bebida vai caindo no gosto e harmoniza bem demais com um prato de camarões. A noite é fechada com chave de ouro. A conta ardeu um pouco, mas está longe de nos dar a sensação de que fomos explorados. MUITO pelo contrário: recomendo a aventura.

PicLuck

Fonte: PicLuck