Vinho em restaurante brasileiro é caro, e isso eu já tratei aqui de diferentes formas e sempre reafirmando minha posição. Existem exceções a essa regra, e mais: existem alternativas interessantes para que possamos arrefecer essa percepção. A mais conhecida é quando uma loja de vinho tem um restaurante e cobra nas garrafas o preço que está nas prateleiras acrescido pelos 10% de serviço. Essa é uma opção honesta. A Ville du Vin na Vila Nova Conceição é o exemplo que tenho mais claro em minha cabeça, mas há outros tantos.

E a Cavatappi Enoteca na Vila Leopoldina, em São Paulo, tem esse algo a mais. Já falei dela aqui, e sou sócio do seu clube mensal de vinhos que nos traz boas alternativas. A loja abriu, em endereço específico no ano passado, um restaurante muito simpático onde os sócios do clube podem beber os vinhos do mês aos preços praticados. E isso é genial.

Sovina

Não é segredo para quem me conhece que sou um sujeito que abro pouco a mão para compras. Alguns me chamam de sovina, e por isso a foto homenageando o encontro com essa bela cerveja artesanal portuguesa em dezembro no Porto. Assim, a grande questão é: como me agradar com bons vinhos num restaurante sem que eu me sinta explorado? Para mim a melhor resposta é: Bruschetteria Tappi. Mas isso só funcionaria perfeitamente bem se eu fosse bem atendido, por alguém simpático, que entendesse de vinho e com quem eu pudesse conversar bastante sobre o assunto. Aí ficaria perfeito. E lá estava o cara: o gaúcho colorado, o sommelier Neri Bonacina. Nossas longas conversas começaram na loja, e quando o restaurante foi inaugurado lá estava ele. Respeitando minhas limitações para grandes gastos, foi ele quem sempre me deixou à vontade pra dizer: “nem adianta vir com vinho caro”. Esses são fáceis, queria ver caber no meu bolso e no meu paladar. E ele acertava na imensa maioria das vezes.

Assim, no restaurante bebi coisas muito bacanas a preços bem razoáveis. Dois brancos muito simpáticos que raramente me agradariam, mas o bom sommelier conhece o seu público. O primeiro um chardonnay chileno, e eu raramente bebo essa uva quando não existem borbulhas. Era um Espino que agradou pela suavidade. O segundo era raro: um valenciano, de quem eu sempre desconfiaria por não gostar da região, da até então inédita uva verdil. Uma novidade bacana, que atendia pelo nome de Finca Enguera. Muito legal.

Big Nose Espino

Fontes: Big Nose e Baccos

No campo dos tintos os três que mais me agradaram foram: o Filipa Pato, o Jardim da Estrela e o Little James Basket Press. Os dois primeiros portugueses bem equilibrados, agradáveis. O primeiro a base da simpática Baga, mais caro – na faixa dos R$ 100 –, e o segundo a honestíssimos R$ 54 em tradicional mistura a partir da Touriga Nacional – até da minha lista semestral esse vinho participou. O último francês, e para mim o melhor de todos. Com método de produção interessante, e feito a partir da Grenache, talvez tenha servido como despedida. Em grande estilo!

little-james fine wines Estado líquido ENovinho

Fontes: Finewines, Estado Líquido e Enovinho

Ao bebê-lo na última quarta soube que esse jovem talento, um amigo dos mais agradáveis para se conversar sobre vinho, recebeu uma daquelas propostas geniais de trabalho. Ao contar, repleto de orgulho, seus olhos brilhavam. Que genial quando um amigo nos dá uma notícia boa transbordando de expectativa, alegria e boa ansiedade. Tenho certeza que ele se destacará em seu novo endereço, e quando eu não estiver por lá para visita-lo darei um jeito de conviver sem a ótima conversa no bom e honestíssimo restaurante.

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