Faz quatro meses publiquei o último texto sobre vinhos aqui no Misturinhas da Ka. A partir de um problema técnico ficamos sem acesso ao site pela rede de casa, e não tenho nenhum interesse em escrever esses textos que não seja numa deliciosa manhã de sábado, recordando calmamente o que existe de mais delicioso no mundo dos vinhos. Assim: sem acesso, sem texto.

Mas essa “quarentena eno-virtual” acabou, apesar de o isolamento ter começado. E hoje volto com esse hobby que encanta quase que exclusivamente a mim. Hobby é assim: diverte quem executa, e se trouxer mais gente junto e não incomodar ninguém melhor. Assim: vamos lá. Quero voltar tratando da viagem mais recente que fizemos, aos 49 minutos do segundo tempo dessa pandemia louca. Pensar que terça-feira de Carnaval estávamos no aeroporto de Madrid voltando para o Brasil. Praticamente só a gente de máscara, nos sentido ET’s. E hoje a Espanha agoniza, infelizmente, nos desafios complexos trazidos pela doença.

Dessa vez visitamos Valência. Incrível pensar que a despeito da capacidade dos vinhos da Rioja, Ribera del Duero, Rueda e Galícia invadirem o país, os três grandes centros nacionais têm coisas próprias muito bacanas. Madrid é cercada por Castilla y La Macha, dentre outras opções que não nos agradam tanto. Barcelona tem ao seu redor Penedès, que não nos deslumbra, mas também a produção de Cava, e as geniais Montsant e Priorat. Aqui a coisa fica bem mais elegante e agradável, sobretudo quando observamos as produções mais especiais.

Mas Valência, uma cidade acolhedora, grande, pulsante e agradável, também é servida por sua própria região e por dois espaços muito bacanas e menos usuais para nós. Jumilla e a uva Monastrell, ou Mourvèdre na França, carrega vinhos potentes, por vezes puxados na doçura e no álcool. Para quem gosta, diversão garantida. Eu gosto, a Ka nem tanto. Já Utiel-Requena, denominação com o nome de dois municípios espanhóis próximos de Valência, e uma série de pequenas localidades nos arredores, faz vinhos tintos predominantemente a partir da uva Bobal. Já falamos dela no blog e por mais que não seja fácil encontrar tal casta no Brasil, vale a pena marcar um bom encontro com essa simpática uva. Os vinhos tendem a ser mais baratos que a média e o glamour é menos acentuado. Mas posso garantir: bebe-se muita coisa boa a partir da Bobal, a uva facilmente encontrada em todos os restaurantes e mercados dessa região mediterrânea da Espanha.

A partir dessa percepção e dessa descoberta, andando pelas ruas de Valência encontramos uma loja das mais simpáticas – a Original CV – Productes Valencians. Era cedo, e depois da primeira visita ainda voltamos à noite para comprar algumas garrafas e outras coisinhas bacanas. Especializada em produtos locais, incluindo os vinhos, quem nos atendeu na primeira passagem foi Maria, na unidade da Calle Grabador Esteve. Empolgada com o que tinha para vender nos explicou muito sobre o vinho, apresentando uma bela sala de degustação. Para completar, antes mesmo de comprarmos qualquer coisa, se voluntariou a ligar numa vinícola, nos deu um voucher de visita, marcou o horário e desejou-nos boas vibrações na aventura do dia seguinte em Requena – ainda falarei sobre isso.

Original CV Original

Essa é outra característica incrível de Valência: as pessoas. São amáveis, quentes, agradáveis e muito educadas. Parecem sempre dispostas a conversar, perguntar algo e responder tudo. Não tenho dúvidas de que entre as três gigantes do país aqui me senti melhor. Voltaremos fácil, e se o fizermos iremos à loja de Maria. A Original CV.

 

Fotos: à esquerda retirada do site da loja, à direita arquivo pessoal.