Costumo ouvir na Rádio CBN as conversas entre Jorge Lucki e Sardenberg sobre vinhos. A interação é muito bacana, pois nitidamente o apresentador entende e aprecia a bebida, o que ajuda muito o trabalho do especialista. A conversa rende muito assim, desse jeito. E não são poucas as vezes que dá uma vontade grande de palpitar, lembrando histórias, ou mesmo de saborear o que estão dizendo.

Lucki também escreve para o Valor Econômico, e lá publicou listas daquilo que tomou ao longo de 2016. Como grande conhecedor, a relação é imensa. Com um destaque: ele só aponta o que gostou. Imagina a quantidade final de tudo o que degustou. Na boa forma de trazer os dados, dividiu as categorias dos vinhos do Velho Mundo – normalmente separadas nas principais regiões dos países, e entre tintos e brancos, além de algo para os rosados e espumantes – em três colunas na edição de 23 de dezembro do jornal. Na primeira está o que considera soberano (pouco disponível no mercado), na segunda o melhor disponível no mercado brasileiro e na terceira a melhor relação qualidade x preço aqui pelo país. Duvidei que eu fosse encontrar algo que conhecia nesse rol todo, mas descobri muita coisa.

Na primeira coluna ele destaca a safra, o que torna os soberanos verdadeiras joias soberbas. Mas a despeito desse relevante detalhe (a safra) por lá vi coisas como os Viña Tondonia branco e tinto que conheço, o Único de Vega Sicília, o branco Soalheiro de Portugal, o Pera Manca tinto e o Champagne Bollinger. Cada vinho desses merece um capítulo especial, ou algo muito apropriado. Sobre alguns, inclusive, já falei. Assim, vou ignorar essa coluna, e antes de me concentrar efetivamente no motivo central do nosso texto, vou apontar o único vinho que conheço na coluna central da lista. O Blog 2011 de Tiago Cabaço eu tive o prazer de comprar numa loja do Makro nos arredores de Lisboa. Estava com um primo querido, olhei a garrafa, estava arrumando as malas para voltar ao Brasil e resolvi incluir essa no meu pacote. Cabaço é um enólogo considerado ousado e bastante promissor. Com linguagem moderna no nome fez esse belo vinho, que tomamos com outra tentativa de modernização: um BTT de Luís Pato. A sigla significa mountain bike em Portugal, o que mostra que se trata de uma bebida para diferentes terrenos em apelo jovial. Uma noite que merecerá atenção em textos futuros.

Assim, voltemos para a lista de Lucki, especificamente para os vinhos da terceira coluna, ou seja, aqueles de ótima relação qualidade x preço. O primeiro, e que merece muito a atenção de qualquer pessoa que deseja se deixar surpreender por um branco perfeito é o Mandolás, um húngaro da Oremus, casa de Vega Sicília no leste europeu que produz essa bela iguaria à base da relevante, para o oriente do velho continente, uva furmint. Genial.

 

oremus

 

O segundo é o rosado Claude Val, com aquela cor rosa pálida genial dos franceses de melhor qualidade. Aqui falamos de um vinho que custa menos de R$ 70, é feito à base de três uvas clássicas – syrah, grenache e cinsault – e entrega demais o que esperamos de um vinho desse tipo. Bela compra! A melhor qualidade x preço da lista. O terceiro é outro branco, o francês Lapeyere Juranson sobre o qual falamos alguns dias atrás aqui, em evento agradabilíssimo no Jardim dos Vinhos Vivos.

 

claude-val

 

O quarto é tinto e vem de Portugal. Foi comprado rigorosamente no mesmo Makro em que adquiri o Blog, mas nesse caso para tomar em família, ali mesmo em Cascais, num belo almoço de despedida. Papa-Figos é vinho da Casa Ferreirinha – que no seu limite maior faz o Barca Velha – cujo rótulo tem o passarinho que lhe empresta o nome. Um serzinho preto e amarelo, simpático, que destoa das demais etiquetas da casa. Uma bebida bem agradável do Douro, outra bela escolha facilmente encontrada em lojas de aeroporto no Brasil. Ainda em Portugal, encontrei mais três vinhos muito agradáveis: os tintos Duque de Viseu do Dão e Crasto do Douro, com preços semelhantes e facilmente vistos em supermercados. Para terminar, o espetacular Muros Antigos, da lenda do Vinho Verde à base de Alvarinho, Anselmo Mendes. Uma beleza.

 

Casa Ferreirinha Papa Figos 2010_Stylish (02)

Para terminar, um tinto espanhol de minha região preferida: Ribera del Duero e seus vinhos feitos a partir de tempranillo, com intensa adição de um carvalho que vai saindo da moda, mas ainda me agrada demais. Aqui Lucki indica o Casajús Vedemia Selecionada que conheci num almoço com um casal querido, e rendeu boa harmonização com belos pratos. Diante de tais dicas, que tenhamos um Reveillon maravilhoso, que pode ser regado a tais sugestões vindas de um grande especialista. Eu só tive o trabalho, aqui, de dizer que tomei e concordo com a inscrição de tais rótulos na lista!

 

casajus