A Espanha é repleta de regiões que produzem vinhos muitos especiais. Duas delas são extremamente famosas e me encantam de forma absoluta: a Galícia e seus alvarinhos de Rías Baixas sobre os quais tanto escrevo, e Ribeira del Duero e seus tempranillos amadeirados e intensos. Vou deixar de considerar aqui os catalães, pois dia desses já escrevi bem-humorado e despretensiosamente sobre eles como se aquele local especial fosse um país e produzisse seu “vinho nacional”, principalmente, a partir da genialidade do Priorato e da capacidade de Montsant.

A despeito de tais pontos, um ponto em especial passou a me chamar mais a atenção na Espanha. À oeste de Madrid está Salamanca, onde sonho viver um dia, mesmo que seja apenas por alguns meses. Ali parece existir a junção de várias regiões: Ribera, Toro, Rueda e a própria Salamanca. Como é possível tanta coisa especial tão próxima? O rio Duero, Douro em Portugal, ajuda a entender parte desse mistério, mas não tudo.

MAPA DUERO

Fonte: Pinterest

Em Salamanca, guiado por um amigo que leciona na secular universidade que completa 800 anos em 2018, fomos num pequeno grupo a Peña de Francia, Mongarraz e Alberca almoçar e passear – no almoço bebemos um bom Ribera, é claro, chamado Emílio Moro (tempranillo) que estava bem correto. Tais municípios são locais especiais dos arredores da histórica cidade, e pelas ruas de Mongarraz, considerado um dos povoados mais charmosos do país, encontro algo que não conhecia – para além das pinturas em chapas metálicas dos moradores das casas mais centrais nas fachadas de suas residências, um projeto do século XX que transformou a localidade numa exposição de arte.

SITE cidade

Diante de uma senhora falante, que me vende bem-humorada um imã para minhas recordações turísticas, me deparo numa prateleira com o Raro, um vinho feito com 100% da casta Rufete na região de Salamanca – que eu sequer sabia que existia. Pergunto do que se trata e, orgulhosa, ela me diz que é a uva autóctone dali. A garrafa não era cara, e o amigo com quem eu dividia o quarto do hotel o tomou, pagou e disse: “esse é presente, e a gente bebe juntos”. Genial, generoso e extremamente simpático.

SITE Raro

O Rufete se mostrou pouco tânico, mas extremamente equilibrado e incomum. Gostei bastante, e pelas ruas de Salamanca o encontrei mais algumas vezes. No Cuzco, um ótimo winebar de Salamanca, um amigo tomou uma taça por pouco mais de dois euros e mesmo se dizendo apreciador de tintos mais encorpados, aprovou. Na mesma noite, no Doctrinos, que merecerá post especial, findei bebendo uma taça do 575 Uvas, que me chamou a atenção pelo rótulo e pela combinação de Rufete, Tempranillo e Garnacha – bem interessante! Salamanca e seus encantos, a Espanha e o sentimento de que se descobre algo novo e encantador a cada hora passada por lá…

SITE 575