Interessante como as agendas sugeridas e confirmadas por amigos queridos nos levam a lugares mágicos com características tão distintas no mundo dos vinhos. Já contei aqui a experiência acolhedora que tivemos na Toscana, mais especificamente na cozinha e na sala de jantar da Tenuta Capezzana.

Nessa mesma viagem tivemos a oportunidade de conhecer a Avignonesi, localizada nos arredores de Montepulciano, num dia ensolarado, frio, com acesso por estrada tranquila onde foi possível desfrutar um pouco mais da Alfa Giulietta que a locadora nos ofereceu em virtude dos erros cometidos na tentativa de levarmos um GM-Meriva!

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Fonte: Alfa Romeo

O local é lindo, e a pessoa que nos acompanharia na visita estava um pouco atrasada. Ficamos na loja, partimos para o gramado, tiramos fotos e aproveitamos o calor do sol. Quando ela chegou parecia um pouco distante, menos acolhedora que os italianos que festejaram nossa visita na casa dos dias anteriores. A coisa piorou um pouco quando confundi duas uvas, e maltratei o espírito toscano. Se a Ka havia falado em limões sicilianos e tomado bronca, a minha gafe foi muito pior. Em meio aos vinhedos de sangiovesi meu objetivo era quebrar um pouco o gelo perguntando se eles também cultivavam canaiolo, casta bastante comum em misturas locais. O problema é que meu cérebro pensou uma coisa e a língua registrou outro: “do you produce nebiolo grape here?”. Pronto! A cara de indignação veio acompanhada de uma sonora bronca: “the nebiolo is produced in north, in Piemonte. We don’´t make wine with this kind of grape”. Tudo de forma educada, mas tensa. Foi quando tentei corrigir e ela se mostrou mais tranquila.

Aquilo não passou de um pequeno momento. Estávamos no começo da visita, e aposto que parte da minha interpretação está no fato de as culturas serem diferentes. O restante da visita foi muito especial, passando por diversos setores da vinícola, até chegar num galpão onde esteiras de palha são utilizadas para o envelhecimento e descanso das uvas que dão origem ao vin santo produzido na casa – um dia dedicarei um post especificamente a ele. E quando disse que tivemos a oportunidade de ver a produção dessa iguaria em outra casa, ela me corrigiu novamente, dessa vez de forma muito tranquila: “our vin santo is different. Our vin santo is the original, the authentic”. Mais uma vez aprendi algo, dessa vez sem cometer erros, e adicionalmente me surpreendendo com a forma como a casa guarda suas barricas, em estantes de madeira. Mas o melhor do passeio estava por vir.

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O restaurante da Avignonesi reabria aquele dia após o inverno. Estávamos em fevereiro e fomos levados para um local espetacular. Cada prato servido, e foram vários, um vinho diferente da casa para harmonizar. Mais tranquilos em torno da mesa nossa anfitriã belga me perguntou o que eu fazia. Foi citar a ciência política e o sorriso tomou conta de sua face. Diversas perguntas, dúvidas e observações sobre o Brasil tornaram nosso assunto mais amplo. O almoço, no entanto, roubava minha atenção por duas razões absurdamente fantásticas: a perfeita harmonização e o sabor sofisticado e elegante daquele almoço. O chef veio à mesa e nos falou um pouco mais sobre o que havia nos servido. Fiquei com vontade de aplaudir, mas o ambiente era fino demais para gracinhas.

avignonesi

Nessa atmosfera de glamour nossa amiga atendeu ao telefone e pediu licença, pois tinha uma reunião. Nos deixou destacando que toda aquela experiência era uma cortesia. Enfatizou ainda que não perdêssemos a sobremesa e o café. Foi quando ofereceram o vin santo da casa, o original, o diferente. Um verdadeiro creme, com uma consistência semelhante aos mais envelhecidos e soberbos balsâmicos. Nos veio numa taça de conhaque deitada, com uma dose comedida. Fiquei feliz por ter degustado tal iguaria apenas com a Ka à mesa. Foi possível utilizar palavras menos elegantes para descrever o prazer absoluto. Genial. Fantástico. Uma experiência perfeita.

vin santo

Fonte: vinícola