Temos um casal querido de amigas que adora vinho. Com elas as aventuras superam os limites do extraordinário. Se um dia eu contar tudo o que bebemos juntos no universo do incomum terei que escrever um livro. Tá aí! Quem sabe um dia não faço isso? Por enquanto vamos de textos para o Misturinhas, pois pra quem apenas gosta de beber e pouco entende isso já é ousado até demais.

Dia 01 de maio caiu numa quarta-feira, e como de costume, ao contrário dos nossos congressistas, nada de emendas para um lado ou para outro. Feriado em meio de semana nos leva a algo muito bacana: eventos gastronômicos ligados a grandes vinhos com elas. Foi o que fizemos. E olha: ficou genial. Vale contar um pouco a história dos vinhos que abrimos. E foram quatro. Dois clássicos, parecia uma semifinal de Champions League. Por sinal, depois dos embates entre Liverpool e Barcelona, Tottenham e Ajax, equilíbrio e surpresa se fazem sinônimos de tais realidades. Aqui teríamos de um lado dois franceses, do outro dois portugueses. Algo ao estilo: Porto x Benfica, e PSG x Lyon, ou coisa parecida. Vamos lá.

Os franceses jogaram antes. Partida borbulhante, efervescente. Dois champagnes dignos. De um lado a Gosset Grand Reserve, o vinho de nossa casa querida na região, que nos proporcionou uma visita mágica em 2012. De outro uma Ruinart Brut, rótulo dourado, meia garrafa. Dois espetáculos. A primeira se mostrou em forma desde o começo e agrada demais por sua delicadeza. A segunda abriu com um nariz difícil, lembrava queijo fresco envelhecido, algo que eu já sentira em vinhos de Chablis e do Jurançon. Agrada, e é polêmico. Mas bastaram alguns bons minutos aberta pra pequenina meia garrafa mostrar todo seu potencial. Aqui tivemos algo ao estilo 2×0 pra Gosset no primeiro tempo, empate no segundo e vitória da Grand Reserve na prorrogação.

GSxRT

Entre os portugueses a coisa não foi efervescente, mas sim elegante. Aquele jogo clássico, do Douro contra o Alentejo. A região mais nobre contra aquela que tem ousado demais no uso de uvas francesas. Que jogo bonito. De um lado o alentejano Mouchão, do outro o tradicional Quinta da Leda, da clássica Casa Ferreirinha – aqui temos, se não estou enganado, o terceiro vinho na linha “sucessória” do primeiríssimo e premiado Barca Velha. No Brasil, o primeiro sai por cerca de R$ 500 e o segundo por volta de R$ 700. Em Portugal a coisa se inverte: o alentejano sai por pouco mais de 50 euros, e o dourense por menos de 40. Um dia a gente entende isso, mas vamos adiante.

MCxQL

Ambos respiraram bastante, e começamos pelo Mouchão (2011). Elegante, equilibrado e fino. Um vinho que casou bem com a comida e mostrou aquele perfil clássico de quem se inscreve em grandes listas. O Quinta da Leda (2010) abriu com um nariz de muito carvalho, veio com aquele peso do nome, com aquela força do que se produz pelo rio que nasce perto de Soria, nas proximidades de Rioja, e potente cruza a Espanha, rasga o norte de Portugal até o mar, “se transforma” de Duero em Douro e nos dá paisagens consagradas pela Unesco e vinhos maravilhosos. Aqui fico na dúvida: sei que esse jeito intenso amadeirado está saindo de moda, mas sempre me agrada encontra-lo. Começo torcendo pro Douro. Mas ele se suaviza, amacia, fica diferente. Quando isso acontece o Mouchão parece que ganhou ainda mais vida. Não sei quem levar para a final com a Gosset. Aqui vou deixar pra quem conhece, ou deseja conhecer. Saúde!