Quando fui para Portugal em 2012 para um congresso de Ciência Política visitei a Quinta da Lagoalva de Cima no Tejo. O convite foi viabilizado pela Mistral e lá aprendi, depois de provar belos vinhos tintos, que vinho verde bom é feito a partir da uva Alvarinho nas cidades de Monção e Melgaço – isso tende a mudar a partir de 2021, mas o papo aqui é técnico demais para eu me aventurar sobre ele.

Depois de vários rótulos provados e de transformar essa uva em minha queridinha no universo dos brancos, percebi que a Soalheiro produz aquilo que existe de mais agradável em Portugal. Obviamente falo aqui, especificamente, daquilo que provei, e não estou sequer perto de ser um super conhecedor de vinhos. A partir de seu vinho de entrada, carinhosamente apelidado de Soalheirinho, é possível notar que o compromisso é sério demais. Mas nunca imaginei que a casa fosse muito além do Primeiras Vinhas, que para mim é tão espetacular quanto o que Anselmo Mendes, um ícone dessa uva, produz de melhor. Para minha sorte eu estava enganado. E bastou visitar a Soalheiro, mais uma vez sob a responsabilidade da Mistral, para descobrir coisas fascinantes para além daquilo que eu conhecia.

SLH catálogo

A visita estava marcada para às 11h00 de uma sexta-feira, dia 29 de dezembro. Chegar antes é sempre aconselhável, mas dessa vez fomos extremamente pontuais, pois errei a entrada na estrada e dei uma volta razoável. Quando nos encontramos com o simpaticíssimo Jorge, ainda faltavam os sete portugueses que vinham da Bairrada para a nossa empreitada. Grupo reunido, todos a postos e começamos a ouvir a história da vinícola que produz os belos alvarinhos. Logo notamos um esforço grande para a produção de uma gama expressiva de vinhos. Não considerarei aqui os destilados que não tomamos e tampouco o tinto a base de Sousão, que não nos agradou muito. Mas vamos ao que provamos de melhor depois de uma caminhada bem explicativa e didática pelas instalações da casa.

SLH caminhada SLH externa

 

O Primeira Vinhas estava lá, e continua magnífico. Bem floral, vivo, pulsante e refrescante. O Reserva já tem muito mais corpo, e seu descanso em carvalho nos oferta um vinho estruturado e guloso – termo que Jorge utilizou para dizer que o vinho demanda comida. Duas belas bebidas que colocamos na mala. Em seguida as maiores surpresas: o Terramater, o Granit e o novíssimo Nature, definido como “fora da caixa”. Por fim, o espumante branco, que para mim ficou doce demais quando feito com 100% de alvarinho. Nesse caso, marquei um golaço quando “às cegas” levei um rosé para romper o ano em Santiago de Compostela. Estava divino, pois a mescla com a Touriga Nacional trouxe a acidez perfeita para o meu paladar. Genial!

Mas e os outros três? O Granit, como o próprio nome sugere, é um alvarinho mais mineral que me agradou bastante. O Terramater é um vinho não filtrado e opaco, que nos trouxe algo delicioso. Por fim, como Jorge bem frisou, a novidade mais difícil de gostar, ou seja, o Nature. Nada de filtragem, e um vinho ácido que me encantou no primeiro gole. A mesa recusou, e muitos entortaram a cara. Nosso anfitrião insistiu dizendo que se trata de costume. No meu caso, feliz ou infelizmente, foi amor à primeira vista.

SLH Jorge

Pra terminar, a surpresa maior da visita. Ou achou que pararíamos por aqui? Um alvarinho de 2001. O vinho estava aberto fazia 20 dias, e Jorge recomendou que não bebêssemos, mas sim sentíssemos o aroma de seu envelhecimento. Fantástico! Toda aquela jovialidade do alvarinho transformada em mel. A cor palha convertida em amarelo intenso. Uma joia, a realização de um sonho: conhecer uma das maiores e melhores casas de alvarinho de Portugal!

SLH 2001