Culturalmente e de forma bastante generalizada, o espanhol é um sujeito que funciona melhor quanto mais o relógio tiver avançado o dia. Restaurantes em Madrid, num ensolarado e caloroso domingo de verão só abrem, muitas vezes, depois das 13h30. Está disposto a comer algo rápido ao meio-dia? Um amigo que me acolheu em sua casa avisa que o Mc’Donalds é provavelmente a única, e pior, escolha. Mas o que fazer se a esse horário já desejávamos sentar numa mesa para atualizar anos de conversa? Procurar.

E foi numa praça – endereço bem tradicional na Espanha – de um bairro que seria algo próximo da paulistana Vila Madalena que nos deparamos com o Cabreira, onde poucas mesas circulavam o restaurante às 12h30 – elas se multiplicariam de forma expressiva a partir das 13h30 e seriam tomadas rapidamente. Sentamos numa delas e chegamos à conclusão, bastante agradável, que gostamos de beber o mesmo vinho branco – obviamente estou falando de um Alvarinho da Galícia. Depois de uma pequena caña – o chope do espanhol – para o primeiro brinde, nos foi trazido um Pazo de Seoane. Menos mineralizado e ácido do que gosto, e um pouco mais floral do que admiro, o vinho foi bem com o belo prato de mariscos que pedimos – esse muito bem feito. Terminou redondo e simpático, mas muito ajudado pela comida.

PAZO

Fonte: Zahil
Findada a primeira garrafa o costume espanhol falou mais alto. Nada de parar num bar só, como já havia me adiantado uma querida amiga em 2015, quando estive com ela em Madrid e fechamos o dia encontrando, num bar tradicional do centro, a família desse querido amigo que me acolheu em 2018. Legal é rodar. E veio a proposta: “prefere algo mais comum, ou quer ir pra um restaurante bem local e fora do circuito tradicional?”. Óbvio que a segunda opção era mais legal, e depois de algumas estações de metrô e boa caminhada, chegamos ao Naveira do Mar. Restaurante tipicamente galego, bem familiar. Lá me deparei com uma deliciosa porção de percebes – que havia comido apenas em Portugal – e com o melhor polvo a feira que comi na minha vida, lembrando que no começo do ano estive na Galícia e devorei uma média de mais de uma porção desse prato por dia durante quase duas semanas. Pois bem, chamamos o garçom e descrevi o vinho que queria. Um alvarinho de Rías Baixas que fosse mais seco, mais mineral e próximo do mar. Experiente, ele captou a mensagem e nos trouxe o simples e correto Albariño do Ferreiro. Boa experiência, que para além do polvo ainda harmonizou com pimentos verdes, prato ainda mais típico da Galícia, de acordo com meu anfitrião.

do-ferreiro-albarino-peq-80x300

Fonte: Vinícola

Boa conversa, boa companhia, boa comida, bom vinho e, principalmente, a excelente tradição dos espanhóis de caminhar pelos bares, ocupar as praças, brindar a vida e aproveitar o sol da tarde. Que assim seja. Viva a Espanha, viva o Alvarinho, viva a amizade.