Em outubro de 2015 fui encontrar a Ka na Europa. Ela estava de férias na França e eu comprei uma passagem para a Espanha. O objetivo era conhecer uma universidade espanhola e ela me acompanhou. Aproveitamos a ocasião e esticamos o roteiro, descobrindo novos destinos e revisitando paixões. Dentre as várias atrações duas noites em Ribera del Duero. O intuito era curtir um pouco mais a região que tínhamos conhecido em 2009. De lá vêm nossos tintos prediletos, mas turisticamente não é muito especial em face de um país maravilhoso. A não ser que a razão da viagem seja a mesma de sempre: os vinhos.

Quando procurado, o mesmo e querido amigo de sempre nos indicou uma vinícola muito especial. Entrou em contato, marcou a visita e fez um e-mail conjunto nos apresentando à direção local. Tudo marcado. Restava confirmar a hospedagem. A primeira opção em Ribera del Duero e suas imediações era óbvia: o super hotel da Abadia Retuerta, um ícone do vinho espanhol que tem uma hospedaria do mais alto luxo – LeDomaine. Difícil demais para o bolso de um cidadão comum. E então passamos para a segunda opção. Ficamos inicialmente entre outras duas casas de vinhos: a Emina e a Pesquera. A primeira se mostrou frágil em algumas avaliações de sites de viagens e a segunda antipaticamente cobrava estacionamento em uma zona predominantemente rural. Foi quando nos deparamos com a Posada Fuente de la Aceña. Um antigo moinho, todo reformado, rigorosamente às margens do Duero, o lusitano Douro, o rio mágico dos vinhos que tanto gostamos em Portugal e na Espanha. Genial, mas estava lotada. E não foram poucas as vezes que entrei no site, apertei F5 e torci pra liberarem um quarto. Pois bem, como dizem os chineses: cuidado com o que você deseja, pois pode conseguir. E deu certo. Hospedagem garantida, resolvi confirmar a visita com a vinícola faltando alguns dias. A pessoa que nos atendeu indicou que ficavam numa cidade muito pequenina, difícil de encontrar. Mas nada é complicado quando se tem GPS, Waze e mapas virtuais.

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Bastou uma pesquisa para notar que não estávamos apenas com a sorte de termos encontrado vaga no lugar onde sonhamos dormir, mas também notamos que nosso destino enoturístico, a Pingus, uma casa boutique de vinhos geniais, estava a cerca de 50, no máximo 100 metros do portão de nosso hotel. Genial! Terminamos o café da manhã e em minutos de uma caminhada sob o sol delicioso de outubro estávamos tocando a campainha.

Pingus

A visita foi muito interessante e amável. O percurso era tão pequeno que deu tempo até de passar antes no escritório de turismo e receber as dicas para um restaurante onde almoçamos um belo cordeiro em vilarejo próximo. A Pingus é uma casa pequena, discreta na paisagem local, sem identificação na fachada, charmosa e de um  vinho super especial e menos típico que as amadeiradas bebidas locais – que eu particularmente adoro. Quem nos contou sobre a bodega, e fez uma prova muito simpática, foi uma enóloga russa, jovem, que mostrou imenso interesse pelos vinhos brasileiros, proporcional ao tamanho de nossa curiosidade pelos vinhos da antiga União Soviética – ela destacou com entusiasmo o que se produz na Ucrânia, mas até hoje não conseguimos beber nada de lá. Foi uma passagem relativamente rápida, mas repleta de cordialidades e boas ideias. Meses depois, na casa de um casal querido, tomamos o Flor de Pingus e ficamos muito bem impressionados.

flor de pingusPico

Na noite anterior à visita havíamos resolvido jantar no hotel. Estávamos encantados com a hospedagem e ficamos por ali mesmo. A comida estava deliciosa, e a moça que nos atendeu foi extremamente gentil e simpática. Pedi a ela que nos sugerisse um vinho numa carta bastante completa. Disse a ela que queria algo dali, de Quintanilla de Onésimo, da pequenina cidade, e ela me indicou o Pico Cuadro. Foi quando perguntei: a casa é aqui pertinho? E ela sorrindo respondeu olhando na direção da janela: “ali na esquina. Aquela casa”, apontou com o queixo. Na caminhada do dia seguinte até a Calle Rio, 22, encontramos a propriedade, infelizmente fechada, e vimos que ficava a menos de 200 metros do hotel. No Brasil a Wine está distribuindo esses vinhos, enquanto o Pingus é da Mistral. São rótulos caros, mas que certamente colocam aquele pedacinho da pequenina Quintanilla, de ruas estreitas, por vezes tortas, pouco charme e atratividade turística tímida no mapa da excelente produção de Ribera del Duero.

Pico Cuadro