Em 2012 ainda fazíamos viagens de quilometragens extremamente longas, passávamos uma noite em algumas cidades e por vezes percebíamos que deveríamos ter ficado mais. Foi assim quando viajamos pela Catalunha, devolvemos o carro no aeroporto de Girona, pegamos um ônibus até a estação de trem e com ele cruzamos a fronteira da Espanha com a França para chegarmos à Perpignan. Na espera pelo vagão desperdiçamos a cidade espanhola, e em 2013 lá estávamos nós para sentir as delícias daquele local que respira música. Muito bacana.

Mas à cidade francesa ainda não voltamos. E a noite foi num hotel bem simples, pertinho da ferrovia, zona de prostituição, degradada, apenas para pegar o carro novo no dia seguinte em solo franco e rumar pelas estradas. Erro grosseiro. Primeiro porque a locadora de veículos nos pregou uma peça e a loja da estação ferroviária estava fechada no domingo. Depois de muito bater a cabeça tivemos que ir de táxi – pago pela Europcar – para um aeroporto e de lá rumar adiante. Segundo porque quem vê as fotos de Perpignan chora de tristeza por ter ficado num lugar tão ruim em uma cidade tão interessante. Paciência. A noite seguinte reservava surpresas divinas.

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A locadora viu a bobagem que fez, e nos deu um carro muito mais caro que o alugado em sinal de desculpas. Cruzar boa parte da França, do limite com a Catalunha à região de Champagne e adentrar Paris num recém lançado Fusca vermelho foi genial. Tão especial quanto chegar à noite seguinte de nossa mal aventurada passagem pela fronteira em um hotel-restaurante absurdamente charmoso em Orange, uma cidade romântica que conserva um teatro romano em ótima forma. A visita foi genial: pensar que naquele local ocorrem concertos de música clássica, e já houve show de Dire Straits. Genial!

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O cheiro do hotel está em minha memória até hoje. Um perfume intenso de lavanda, uma decoração agradável e uma reserva para o jantar. Adoramos quando conseguimos nos hospedar em casas que têm nas panelas algo mais relevante que as camas. Pois o Le Mas Des Aigras é um desses locais. Logo no check-in, num início de tarde de domingo notamos o movimento em torno dos pratos e um aroma de comida mágico. Depois do passeio pela cidade sem comer qualquer coisa voltamos para o hotel. Enquanto nos arrumávamos para o jantar bebemos um X de Xeito, um alvariño galego divino que merecia uma refeição especial – paciência. Mas o jantar nos reservava algo muito especial. Ao seguir as indicações do garçom sobre o menu o avisamos que já tínhamos bebido uma garrafa de vinho fazia poucos minutos, e que portanto não iríamos além de mais uma. Assim: eles teriam que pensar num rótulo que fosse capaz de acompanhar todos os pratos. E não foram poucos.

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O desafio foi aceito com bom humor, a consulta demorou um pouco para ser atendida e o que nos apareceu à mesa foi um rosê – num preço corretíssimo e qualidade especial. Isso mesmo: de acordo com o chef o Domaine de Fontavin, onde predominava a garnacha, seria o nosso companheiro ideal. Comemos peixe como prato principal. Mas cada uma das experiências foi mágica, e o vinhos nos levou por harmonizações fantásticas. Uma noite maravilhosa, num hotel aconchegante onde quem reina é o fogão e o restaurante. Perfeito.

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