Desde 2011 tenho registrado numa planilha os vinhos que temos tomado, e colado num caderno os seus rótulos. Uma forma simpática de guardar momentos especiais. Nem tudo está no caderno e tampouco na planilha. Sobretudo os vinhos que tomamos em taças pelas viagens e passeios que fazemos. Como nos países que produzem em grande escala a cultura do vinho é mais disseminada, taças são mais acessíveis para os bolsos. Na Europa, por exemplo, por dois a cinco euros provamos bebidas que vão do honesto ao estupendo. Recordo-me de uma ocasião em Florença em que o Eataly estava com uma promoção muito bacana, de taças de ótimos Brunellos por menos de cinco euros. Foi uma festa!

Numa dessas andanças estávamos em Córdoba, na Espanha. Uma cidade extraordinária, estupenda. Chegamos ao hotel perto da hora do almoço, guardamos o carro, fizemos o check-in e fomos caminhar. Numa simpática praça encontramos um bom restaurante e almoçamos. Por lá tomamos vinho, e em nossas andanças fizemos duas paradas pra rápidas cervejas.

Já repletos e cansados, a noite já ia alta, o frio de janeiro incomodava e resolvemos caminhar de volta para o hotel. Foi quando passamos pela mesma praça do simpático restaurante do almoço e, em um winebar bem atraente, uma lousa dizia: “Copa de Bobal: $ 3,00”.

A pergunta foi imediata: “amor, o que é Bobal?”. Sem resposta, resolvemos entrar e perguntar. “Es una uva”, nos disse o atendente. Não me recordava da existência dessa casta em minhas estatísticas. Nada dela. Então só nos restava experimentar. E foi o que fizemos.

A Bobal é a terceira uva mais plantada da Espanha, mas comumente é utilizada em vinhos vendidos a granel ou entra em porcentagem inferior em alguns blends. Assim, faltaria, em tese, aquela elegância ou aquele protagonismo. Mas em Utiel-Requena, nas proximidades de Valência, ela atinge resultados mais expressivos e de acordo com o conselho regulador local deve representar 90% do volume ou reinar soberana na bebida. Pois bem: tomamos a taça de Bobal. E gostamos. O que conhecemos a partir de então são os tintos, mas dizem que os rosados atingem resultados razoáveis e até espumantes são produzidos.

KA Bobal

Naquela noite conhecemos o “Domínio de la Vega”, famoso por seu rótulo colorido e facilmente encontrado no Brasil. Fiquei tentado a pedir a garrafa e arrancar a etiqueta para a nossa coleção, pois fomos servidos com as duas últimas taças. Mas o simpático atendente estava tão entretido explicando alguma bebida para um cliente que preferi não atrapalhar. A partir de então, no entanto, conhecemos outros dois rótulos. Um deles o Clos Lojen, que comprei num saldo na World Wine. Uma bebida mais sofisticada e cara que a média: ótima opção. A outra passou a fazer parte das minhas listas de compras na Wine, e item forte em minhas relações semestrais de vinhos de menos de R$ 55. Por cerca de R$ 40 o honesto Bobal de Sanjuan – viñas viejas nos encantou. Primeiro, obviamente, pelo preço. Segundo porque é um belo coringa. Sua harmonização com queijo de cabra fresco impressiona – se bem que aí fica fácil. Experimente! Mas tenha em mente que vinhos a partir da Bobal são jovens, pouco alcoólicos e bem saborosos, traduzindo tons adocicados e frutados que podem agradar paladares um pouco mais suaves. Vale? Claro que sim! O vinho da rua veio pra casa. E por aqui sempre terá espaço.

VegaLojenSanJuan