A informação de que existem catalogadas cerca de cinco mil castas viníferas no mundo causa certo desânimo a um curioso. Nos últimos oito anos cataloguei cerca de 1.400 vinhos bebidos e obviamente repeti muito das uvas mais comuns. Cerca de um terço do que bebi nesse período ficou a cargo da Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Garnacha (Grenache para os franceses). Quantos anos eu precisaria para encontrar tantas uvas? Onde comprar? De onde trazer? Que desafio! Para atenuar a aventura devemos considerar que nem todas essas castas geram vinhos onde elas predominam. E quando contabilizo minhas uvas só adiciono a uma longa planilha aquela que aparece mais na fórmula – critérios de desempate eu não tratarei aqui, mas cada vinho soma uma uva em meus registros. Dessa forma, claro que já bebi muito mais do que cadastrei em matéria de castas, pois muitas são mais comuns em complementos de bons blends e raramente reinam. Mas ainda assim…

Ainda assim, ao longo desses anos conhecemos 115 variedades que predominam ou da qual são produzidos vinhos varietais – 37% desse total nos renderam apenas UM vinho, ou seja, experiência única. E o que exatamente bebemos? De onde vieram esses vinhos? Se pensarmos que Portugal e Itália têm uma variedade “irritante” de castas a coisa fica mais fácil, pois são países acessíveis sob diversos aspectos. Mas e quando partimos pro que existe de mais raro? Algo ao estilo: aquela figurinha que falta pra completar o álbum. Algo do tipo Muscat Bailey A, desenvolvida no Japão e que rendeu um presente maravilhoso que um amigo nos trouxe para bebermos juntos – o adjetivo vale pela lembrança, pois o vinho era frágil.

Bem, dito isso o que exatamente nos veio de novo esse ano? Vamos lá. Ao todo foram 12 novas castas, mesmo número do ano passado. Em três casos bebemos mais de um vinho. Em dois deles o resultado nos entusiasmou. A Teroldego valeu até post no misturinhas, e não exploramos nada vindo da Itália. O que nos alegrou foi um par de brasileiros vindo do Rio Grande do Sul, um Larentis e um Don Guerino. A Aglianico está sob suspeita. Um vinho comprado numa promoção de supermercado estava medonho, e o seguinte começou bem e morreu logo. Ambos eram italianos. Já a Savagnin é a rainha do Jura, a região que nos encantou por seu glamour, paisagens, simpatia e, sobretudo, pelos vinhos brancos extraordinários e tintos absolutamente singulares. Aqui está uma uva que vale cada gota, uma experiência mágica.

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A lista de novidades se completa com os exemplares únicos de Graciana (um argentino apenas razoável), Petit Syrah e Malvasia Nera (ambos morreram logo, o primeiro de Portugal e o segundo da Itália) e os brancos de Falanghina e Bourboulenc, o primeiro da Itália e o segundo da França que não agradaram tanto. Esses não trouxeram grandes resultados, mas os brancos de Pecorino (Itália) e Verdil (Espanha) causaram ótimas surpresas, bem como os tintos de Nero di Troia (Itália) e Poulsard (França), esse último mais uma joia do Jura. Notemos: em um universo de cerca de 200 garrafas anuais pouco mais de 6% foram de uvas novas. Vale a pena testar? Vale a pena arriscar? De cada 20 vinhos que você compra por ano, não valeria a pena se arriscar em um deles? Em nosso caso foram 15 garrafas de uvas novas no ano e oito acertos muito bacanas. Os erros não foram exatamente tragédias, com exceção de um Aglianico. Assim: prove! Arrisque! Saúde!

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Fonte: Enoteca Paulistana e Evino – Verdil e Nero di Troia comprados no Brasil a bons preços