Quando viajamos para países que produzem os principais vinhos do mundo tomamos contato com um universo que nos desanima em nosso cotidiano. Descobrimos o peso do câmbio, dos impostos e de alguns exageros empresariais no preço dessa bebida por aqui. Em Portugal, por exemplo, num restaurante comum, um vinho simples custa o mesmo que a sobremesa. Claro que nesses casos estamos falando de vinhos pouco elaborados, mas são exatamente esses que costumamos beber em restaurantes por aqui. Sobretudo por conta dos valores exigidos.

Outro exercício que causa certo desânimo está associado à comparação entre o preço das lojas e o preço cobrado nos restaurantes brasileiros – se você comparar esse último valor com aquele cobrado na vinícola, a depressão se fará presente! A Ka já me explicou várias vezes que as margens fazem sentido, mas uma amiga dela, durante um tempo, chegou a nos dar “desconto de restaurante” na loja que administrava. Ela tirava a “taxa loja”, entregava o vinho em casa e tudo isso representava um desconto de 30% sobre a etiqueta. Assim, passei a acreditar menos ainda nos valores exorbitantes cobrados por vários restaurantes (não todos) que mesmo com um desconto de quase um terço embutem o dobro nos cardápios. Absurdo!

Diante de tal ponto, infelizmente, entendo que devemos olhar a carta de vinhos de um restaurante da seguinte forma: primeiro definimos com a mesa o que iremos comer, para que exista um mínimo de chance de harmonização. Pagar caro e beber algo que desça quadrado, brigando com a comida, é de chorar! Segundo olhemos fortemente para a coluna da direita, onde estão os preços. E se não encontrarmos nada que seja razoável: “vamos tomar cerveja” – o que por vezes também é um abuso. O exercício nem sempre funciona, e recentemente doeu pagar R$ 42 em uma garrafa de espumante Hermann Bossa nº 1 na Vinhedos do Natal Shopping à tarde, e no jantar com primos queridos abrir o mesmo rótulo, com a etiqueta da mesma loja, por mais de R$ 100 (incluído aqui o serviço do garçom). Fora do Brasil, em países produtores, não se passa por isso de forma tão agressiva. Claro que existem abismos entre lojas e restaurantes, mas como aqui a coisa é muito puxada, por vezes nos sentimos anestesiados nos restaurantes estrangeiros.

Outra possibilidade de beber um bom vinho no restaurante é levando a garrafa de casa. Alguns estabelecimentos cobram o que chamam de “taxa de rolha”. Ou seja, um valor pelo que seria o serviço do vinho – taças, abertura etc. Ligar no estabelecimento, entender como funciona, acordar as regras do jogo é essencial. Lembre-se que nesses casos o responsável pelo atendimento sempre vai provar, e fazer algum comentário. Alguns dizem “ser feio” levar vinhos baratos e comuns a restaurantes, o que efetivamente não compensa quando se cobra a tal taxa – já vi isso variar entre R$ 30 e R$ 70. Levar um vinho de R$ 50 ao restaurante e pagar mais R$ 50 pela taxa faz valer a pena comprar a mesma garrafa por R$ 100 no próprio restaurante. E como driblar a taxa? Existem duas maneiras muito simples: alguns clubes de vinhos, esses que enviam algumas garrafas para casa, têm listas de restaurantes que zeram a taxa para os sócios ativos. É o caso do Sociedade da Mesa, testado e aprovado para este fim. Outro modo é pela intimidade com o restaurante. Em 2013, quando fiz 38 anos, abri num restaurante um Planassos 2006, vinho raro com produção pequena de 600 garrafas por safra que comprei no Priorato, de um amigo produtor. Levei o vinho a um restaurante muito especial cujo maitre, premiado e reconhecido, é amigo especial. Ele não cobrou a rolha, e provou a iguaria conosco. Amou! Nós também.

Foto do site da Saó del Coster
Foto do site da Saó del Coster

Pra terminar, lembre-se: se for beber no restaurante, embuta uma outra taxa no seu preço, o valor Uber ou táxi. Ou eleja o sóbrio da vez, caminhe ou utilize transporte coletivo…