O Chile não é um país que facilita demais o consumo de álcool, ao mesmo tempo em que alguns estudos científicos dão conta de que se trata de uma das nações do continente onde o consumo é maior. Por lá, não se pode beber nas ruas, a penalidade para quem dirige sob o efeito de álcool é grande, assim como a venda para menores é rigorosamente combatida. Algumas pessoas ouvidas dizem que o controle se deve a perdas inestimáveis de vidas e um convívio danoso com um volume de dependentes grande. Para se ter uma ideia, até meados do século passado, trabalhadores eram pagos por seu labor com álcool, e dele se tornavam dependentes em algumas partes do país, nos contou um brasileiro extremamente cordial que nos atendeu em um excepcional almoço. Assim, restaurante são classificados sobre a possibilidade ou não de venda de bebidas com placas de advertência em suas portas, e não é incomum entrarmos em lojas e pequenos mercados que sequer comercializam uma simples lata de cerveja. A coisa, por lá, é aparentemente bem mais restritiva do que por aqui.

Mas isso não nos impede de procurar, e encontrar, locais para o consumo e a compra de vinhos. E se o seu objetivo é trazer garrafas para o Brasil ou bebê-las por lá, ao estilo festinha gastronômica no hotel, atenção para algumas dicas do nosso blog.

Passamos seis dias em Santiago entre 15 e 21 de novembro de 2023. O local com a maior oferta de garrafas é o bom e velho supermercado. Visitamos um Jumbo, gigante, no Shopping Costanera, o maior do Chile e provavelmente um dos mais amplos do continente. Quando avistei as prateleiras de vinho, confesso, desanimei. Tem de absolutamente TUDO do que é mais comercial, das gigantes vinícolas chilenas. Uma variedade exuberante, mas literalmente, mais do mesmo. Aqui tenho que fazer uma ressalva um tanto hostil: eu NÃO gosto de vinho chileno de bodega gigante. Da série: pronto, falei. Paciência. Assim, pode apostar: você vai encontrar muita coisa, a bom preço. Eu, pessoalmente, saí de mãos abanando do local.

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A segunda alternativa são as lojas especializadas em vinho, e elas são bem menos comum do que podemos imaginar. Vou excluir dessa lista três dos quatro restaurantes que tratei no post passado, pois além de serem locais geniais para refeições, vendem vinhos para levarmos conosco. Confira tal texto, vale demais se você planeja ir a Santiago. Assim, fico aqui apenas com a CAV, uma loja que no citado shopping center fica, literalmente, numa das entradas do supermercado. E aqui me diverti demais. Primeiro porque produtos mais raros, mais específicos, de produtores menores abundam nas prateleiras. Segundo porque fui muito bem tratado por um simpático vendedor. E saí de lá com duas garrafas que foram consumidas em poucos dias no hotel. A primeira delas um vinho laranja, obviamente denominado Naranjo, a base de Torrontes produzido por Maturana. No restaurante que havíamos almoçado horas antes fomos avisados que se tratava do mais premiado vinho desse tipo no país. Não deu outra. Por R$ 80 ele nos acompanhou – no Brasil vejo que tal rótulo é vendido por algo entre R$ 150 e R$ 200. O vinho estava muito, mas muito bom para quem gosta desse tipo de produção.

No dia seguinte, nova aventura a partir de minhas compras na CAV: o Latina i, um varietal de Petit Verdot, uva que aprendemos a admirar com uma amiga querida, que parecia um pouco exagerado em seus aromas e sabores. Sensação absoluta de estar mascando galho de alecrim e lambendo pimenta preta, mas paciência. Outra amiga diria se tratar de um vinho “canastrão”. A enóloga mulher e o fato de a produção ser relativamente pequena foi o que nos convenceu. O resultado ficou um pouco aquém, mas destaque para o fato de que nos custou R$ 65 e aqui no Brasil a garrafa sai por R$ 150. Beleza. Boas experiências em loja recomendável.

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A última parada seria o tradicional shopping da área de embarque do aeroporto internacional. E aqui “deu ruim” em duas direções. Primeiramente: nosso voo estava marcado para às 6h30, e chegar no aeroporto pouco antes das 4h00 em nada alimentou o desejo de conhecer lojas. Se por um lado, aqueles comércios que vendem de tudo e te obrigam a atravessá-los estavam abertos, por outro os preços de vinhos bastante conhecidos estavam pela hora da morte. Não vi nada, em Dólar, que convertido para o Real não trouxesse desvantagem. Ficou tudo na prateleira. Mas se você tiver paciência para atravessar ileso tal etapa do comércio, se deparará rapidamente com “La Cava del Vino”, uma loja de bebidas no saguão mais central do embarque internacional, Terminal 2, que pode te trazer algumas boas surpresas. A mim não trouxe, pois estava fechada, mas seguramente ali as coisas, observadas pela grade, podem ser infinitamente mais atraentes. Existe, inclusive, uma gôndola com apelo para produtores mais locais. Fiquei bem curioso, mas fica para a próxima vez, ou para quando você me contar algo sobre sua possível experiência no local.

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Resumo do passeio: Santiago não transborda lojas de vinhos, restringe consumo, os preços são cerca de 50% ou mais baratos do que aqui, há alguns locais interessantes para a compra e eu não gosto de vinho chileno de produtores gigantes… Mas isso eu não precisava repetir.