Não me lembro qual foi a última vez que fui a quatro lugares com propostas semelhantes, numa mesma viagem, e fiquei com a sensação de que não consigo dizer qual foi o mais genial. Em Santiago, capital do Chile, tivemos três almoços e um jantar em locais destinados ao vinho que nos causaram alegrias múltiplas. Como é bacana sair assim dos restaurantes.

Vamos às descrições de tais locais, pois se você gosta muito de vinho e está de malas prontas para a capital da nação Andina, não pode deixar de conhecer cada uma dessas dicas que vou deixar aqui. Seguirei a ordem cronológica das visitas e tentarei mostrar o mesmo nível de entusiasmo com cada um dos locais, pois seguramente não consigo dizer de qual gostei mais. Chegamos à cidade na quarta-feira dia 15 de novembro no final da tarde, e o fato de anoitecer perto das 21h00 nos permitiu uma caminha rápida pelos arredores do hotel sem qualquer medo. Por sinal, por mais que os chilenos reclamem da violência, para quem mora em São Paulo a capital do Chile merece atenção com os pertences, mas anda muito fácil e dócil. Momentos de insegurança não foram sentidos, nem mesmo, em zonas centrais ou periféricas que visitamos. Suave.

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Nossa PRIMEIRA parada ocorreu no almoço de quinta-feira, um dia comum no Chile, pertinho da estação Universidad Católica – que sempre me remeterá à genial final da Copa Libertadores contra o SPFC em 1993. O Boca Nariz é um comemorado restaurante, wine-bar e loja de vinhos que na hora do almoço fica absolutamente abarrotado. Ao seu redor, diversos restaurantes não têm a mesma audiência, e precisamos de três investidas na porta para conseguir uma mesa no interior. Na primeira, nos ofereceram lugares embaixo do guarda-sol, na rua. Recusamos e fomos caminhar. Na segunda, nem no sol havia lugar, e fomos tomar cerveja artesanal em boteco próximo – o que no Chile é sinônimo de qualidade e preços altos. Na terceira, passavam das 15h00, e finalmente fomos colocados para dentro. Sem stress, passeio é isso mesmo. Quem nos atendeu foi Dan, um cara muito atencioso que nos explicou pratos e vinhos com muita dedicação. Aqui comemos de entrada um tartar de truta com queijo de cabra que alucinou. Os pratos principais dividiram opiniões: a massa com lagostinos da Ka não estava muito gostosa, mas o meu risoto de cogumelos diversos estava incrível. Quem nos acompanhou aqui foi um Alvarinho da Los Vascos, marca que enxergo com ressalvas, mas uva da qual não fujo nunca. O vinho estava bem correto, cítrico como pode ser. No cardápio, duas coisas atraem demais. A primeira são as sugestões de experiências de taças de vinhos MUITO organizadas. Parece valer demais sentar ali e testar, testar e testar, o que notamos que muitos turistas fazem. O local é bem legal. No final do almoço a Ka ainda pediu uma taça de um Moscatel de Alejandria para sobremesa que estava divino. A segunda requer atenção: o restaurante, extremamente bem decorado, vende vinhos para serem levados a preços bem menores do que sua carta. Para tanto, chame o garçom e peça um menu especial da loja. Não se arrependerás. Eu não comprei nada porque prometemos voltar, o que não ocorreu. A visita valeu demais. Recomendo.

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No sábado seguinte tivemos um dia de gastronomia absoluta. Encontrei em pesquisas virtuais nossa SEGUNDA parada, o Les Dix Vins, cuja proposta é bem semelhante àquela do Boca Nariz. Restaurante, loja de vinho, onde as garrafas ficam à mostra, wine-bar e um ambiente muito especial num bairro um tanto mais nobre – Las Condes. A casa fica a poucos quarteirões da estação El Golf do Metrô, e note que vou me referir aos trens em todos os casos, pois esse é o meio de transporte mais seguro, confortável e capaz de te tirar do tráfego caótico da cidade.

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Ao entrar, casa relativamente sem movimento, fomos atendidos por um rapaz muito agradável. Brasileiro de Curitiba, Harley foi extremamente bacana quando começamos a conversar sobre vinhos. Ao longo de nossa passagem, generosamente, nos deu três provas de vinhos excelentes. E quando fui para as prateleiras, onde os preços são mostrados em valores distintos para consumo no local ou para viagem, findei fazendo mais uma escolha excepcional. O Amber é um vinho laranja, feito da combinação de Sauvignon Blanc, Viognier e Roussanne, pela Attilio & Mochi, vinícola de casal de brasileiros que produz no país. Estava incrível, e casou perfeitamente com um tartar de atum com abacate que eu comi – o chileno coloca o fruto em quase tudo, e dificilmente erra. De sobremesa, dividimos uma tortinha de queijo de cabra que talvez tenha sido um dos melhores doces dos últimos tempos. O almoço durou bastante, pois a conversa com Harley e as diversas pesquisas pelas prateleiras me remeteram a momentos muito especiais. A loja divide seu espaço entre bebidas nacionais e importadas, com destaque para os rótulos franceses. Daqui ainda levamos um Alvarinho chamado Alba de Andes que está em casa, e o A Ti Itata, blend com a presença da Riesling que bebemos no hotel e estava simpático. A visita valeu demais. Recomendo.

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Na noite de sábado um momento muito especial, e nossa TERCEIRA parada. Uma amiga querida se casou com um chileno e nos encontramos para jantar no Baco, restaurante perto da estação Los Leones do Metrô. O local é muito bonito, bem decorado e todo voltado para o vinho. Na carta, obtida eletronicamente pelo celular, uma quantidade imensa de vinhos. Findamos pedindo um Amelia, Pinot Noir de nível acima da média da produção da Concha y Toro. Eu não conhecia o rótulo e a bebida se mostrou bem agradável. A harmonização com o meu prato foi especial, pois pedi um ensopado de lentilhas com carne de porco e tudo se fez de maneira harmônica. O jantar foi super agradável, e o fato de ele trabalhar na Concha y Toro trouxe elementos adicionais para a mesa que me encantaram, para além do quanto admiro ela e estava com saudades. Adoramos o encontro e esperamos em breve recebê-los por aqui. No Baco, como estávamos concentrados e felizes com o encontro, não explorei muito os detalhes do restaurante, mas posso assegurar: a visita valeu demais. Recomendo.

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Por fim, já no apagar das luzes da viagem, uma aventura improvável vivida no almoço de segunda-feira, nossa QUARTA parada. Notei pelas minhas navegações virtuais que ainda faltava conhecer um restaurante, wine-bar e loja de vinhos. Tratava-se de uma pequena rede chamada La Vinoteca. Optei pela loja próxima da estação Inés de Suaréz do Metrô, e depois de uma breve caminhada por ruas tranquilas e por um pequeno parque urbano muito simpático, chegamos ao local. E aqui foi um espetáculo. O primeiro ponto: preços bons e sem qualquer diferença entre consumir nas mesas ou levar para casa. O segundo: o ambiente. Pense numa padaria super sofisticada, grande, ao estilo daquelas que temos em São Paulo que já incorporaram restaurante e comércio. Agora pense que o principal produto do local são vinhos e mais vinhos de diversos lugares do mundo, com destaque para o Chile. Ainda existe o balcão para corte de frios e o espaço dos pães. O atendimento completa o pacote perfeito, e lamento muito não me recordar do nome da moça que nos atendeu, inclusive, falando um português fofo e generoso. Muito bom. Adoramos, sobretudo quando ela trouxe uma tacinha do sofisticado VIK rosé para provarmos – estava incrível.

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Aqui comemos bem demais e em quantidade muito generosa nos pratos. Eu fui brindado com o fetuccini negro mais incrível de todos os tempos, com frutos do mar, e a Ka comeu um peixe com molho mais picante e algumas iguarias marinhas. Estava tudo ótimo. O vinho aqui não me deixou escolhas. Encontrar por R$ 70 um Alvarinho de Rías Baixas, na Galícia, direciona demais o pedido. O You & Me, no entanto, tem uma proposta mais jovem e menos intensa, quase apelando para o doce, que não nos agradou tanto. Mas nada que a comida não tenha ajudado demais, e que tenha sido capaz de estragar a aventura. Pelo contrário. Conta fechada, foi a hora de passear pelas gôndolas em busca de algo para levar. Quem veio comigo foi um JCV Ramato da uva Pinot Grigio, apelando para método e região italiana que produz bebidas com um ar de vinho laranja que nos agrada demais. A visita valeu demais. Recomendo.

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